Banco Mundial analisa impacto de empréstimo à Aracruz
2005-08-26
Em agosto, deve chegar ao Espírito Santo a consultora Deborah Goldemberg, do International Finance Corporation (IFC), braço do Banco Mundial para financiamentos do setor privado. A pedido de organizações da sociedade, que solicitaram a avaliação ao Banco, Deborah Goldemberg verificará os impactos socioambientais do empréstimo de US$ 50 milhões que o IFC concedeu à Aracruz Celulose no fim de 2004. A empresa pretende investir o dinheiro na monocultura de árvores no estado.
A visita evidencia que a sociedade está questionando os desembolsos do Banco Mundial para a Aracruz. Em virtude da amplitude de seus investimentos, a empresa se transformou em símbolo dos impactos socioambientais da monocultura de árvores para a produção de papel e de celulose.
O BNDES também é um dos financiadores da empresa, que provavelmente será um dos principais atores privados da política oficial de plantação de florestas. O Plano Nacional de Florestas, elaborado em 2004 pelos Ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura, prevê a plantação de 15 milhões de hectares de árvores em dez anos, utilizando linhas públicas de financiamento.
A Rede Alerta contra o Deserto Verde decidiu que não se reunirá com Goldemberg por enquanto. Formada por grupos indígenas afetados pela monocultura, organizações não-governamentais que apóiam os(as) índios(as), entidades de defesa de pequenos(as) agricultores(as) e dezenas de outras instituições, a Rede acusa a empresa Aracruz, a maior do setor, de manter péssimas relações com os grupos afetados por suas atividades, desde sua instalação no Espírito Santo, há 38 anos.
Desde maio, segundo a agência de notícias Carta Maior, cerca de 500 índios das etnias Guarani e Tupiniquim ocupam [...] uma área de 20 quilômetros quadrados de plantio da empresa. A intenção dos indígenas é realizar um processo de autodemarcação nas áreas já reconhecidas pela Funai e pelo Ministério Público Federal. Os(as) indígenas reclamam que suas terras teriam sido griladas pela Aracruz.
A Aracruz é uma das empresas que mais crescem no Brasil e foi uma das poucas que obtiveram lucros acima dos conseguidos pelos bancos em 2004 e 2005. A Carta Maior também cita estudo da ONG Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), segundo o qual a Aracruz possui 385 mil hectares de terras, sendo 250 mil hectares de monocultura de eucalipto no Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.O BNDES financiou com R$ 1,45 bilhão a construção de uma nova fábrica de celulose e a implantação de programa florestal da Veracel no sul da Bahia. De acordo com o banco, 98% da produção da unidade será destinada ao mercado externo. “Com a instalação dessa fábrica, o Brasil consolida sua posição de importante competidor entre os maiores exportadores de celulose, mercado no qual o país ocupa o terceiro lugar, atrás do Canadá e dos Estados Unidos”, diz um comunicado do banco. (Eco Agência, 25/08)