Jericoacoara: Banco de dunas pode desaparecer em 50 anos
2005-08-26
Jericoacoara é conhecida mundialmente pela beleza. Mas suas dunas, além de bonitas, atraem cientistas do mundo inteiro por serem as maiores do tipo barcana, atingindo de 50 a 60 metros de altura — depois delas as mais altas não passam dos 22, no Peru. O problema é que, daqui a 40, 50 anos, a estimativa é que as dunas de Jeri possam desaparecer, já que elas migram, por ano, de 20 a 30 metros.
Esse e outros assuntos relacionados ao tema começaram a ser discutidos ontem no I Simpósio Brasileiro de Sistemas Dunares e Simpósio Internacional de Dunas Costeiras, no Marina Park Hotel, em Fortaleza. Como não poderia deixar de ser, o evento se encerra, no fim de semana, com uma viagem a Jeri.
Especialistas do Brasil, Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Israel, França, Nova Zelândia e Espanha estão em Fortaleza discutindo a formação das dunas, suas interações com o meio ambiente, como elas crescem, migram, se fixam e como o homem interfere nesse processo.
Segundo o presidente do evento e diretor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), Luís Parente Maia, as dunas de Jericoacoara são as maiores, no mundo, do tipo barcana — em formato de meia lua. A presença de exemplares tão altos se deve a um fato bastante conhecido na região: o vento.
É que, como explica Luís Parente, por volta de Acaraú, no Ceará, até os Lençóis Maranhenses, o vento sopra praticamente em uma só direção de aproximação, a leste, o que forma uma corrente freqüente em todo o ano.
— Isso favorece o acúmulo de areia -, observa.
A manutenção de um dos símbolos de Jeri ganha amparo no fato de o espaço ser um Parque Nacional e, por isso, as dunas só podem ser usadas para estudos científicos.
— Teoricamente, o Governo Federal já tomou a iniciativa de preservar, mas as dunas são móveis. E essa é justamente a beleza de Jeri -, diz Luís Parente.
Conforme observa, a única forma de evitar a migração é vegetar as dunas. O problema é que o processo, se não for natural, é caro e árduo. Cada hectare vegetado, ao ano, custa de US$ 1 mil a US$ 2 mil.
Segundo Luís Parente, para efetivar o processo são necessários, no mínimo, três anos. E há outras questões a serem consideradas, como o impacto dessa interferência na paisagem natural e no próprio turismo.
Em Israel, as dunas barcanas têm em média dois metros; na Espanha, de 1,5 a dois; no Marrocos, de seis a sete; e no Peru, onde até 1998 se imaginava estar as mais altas, de 20 a 22 metros. No caso de uma barcana de 60 metros de altura como há em Jeri, o volume é 30, 40 vezes maior que as outras.
No Brasil, a maioria das dunas está no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro e no Nordeste.
Técnicos vão avaliar aplicação da legislação
Apesar de o Parque Nacional de Jericoacoara ser de jurisdição federal, a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) levará 15 técnicos à praia para, através da troca de informações com os cientistas, acrescentar dados que podem aperfeiçoar o projeto Zoneamento Ecológico da Zona Costeira (ZEE), que agora passa por considerações finais.
O ZEE, depois de transformado em lei após votação na Assembléia Legislativa do Ceará, vai orientar todas as políticas e interferências na costa cearense.
De acordo com a coordenadora de controle e proteção ambiental da Superintendência do Meio Ambiente, Maria Dias Cavalcante, até o final de outubro o Zoneamento Costeiro será concluído. No ano passado, foram realizados 26 fóruns de discussão, sendo 13 em comunidades costeiras.
Maria Dias espera que, com essa troca de experiências na viagem a Jericoacoara e nos dois simpósios, geólogos e geógrafos da Semace avaliem como a legislação local está sendo aplicada.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a Secretaria do Meio Ambiente e Controle Urbano do Município de Fortaleza (Semam) também participam do evento. A interação entre instituições públicas e universidades deve, principalmente nesta finalização do ZEE, permitir ajustes positivos ao projeto, a partir de iniciativas nacionais e internacionais que servirão de exemplo. (Diário do Nordeste, 25/08)