Promotoria quer ampliar área investigada por contaminação em SP
2005-08-26
O Ministério Público Estadual (MPE) de são Paulo vai montar uma equipe de especialistas para analisar a suspeita de contaminação da água na região de Interlagos e Santo Amaro, zona sul. E pretende ampliar o raio de 500 metros de investigação a partir da fábrica da Gillette na Avenida Eusébio Stevaux, possível foco da contaminação.
— Vamos fazer um estudo profundo, com técnicos que atuaram em Cubatão -, disse o promotor do Meio Ambiente Geraldo Rangel. A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) interditou sete poços artesianos em junho na região. No início da semana, o MPE abriu inquérito civil para apurar o caso.
— As investigações já começaram. O que aconteceu foi muito grave, as substâncias detectadas não se encontram em qualquer lugar -, afirmou Rangel.
A Cetesb ainda não começou a fazer análises mais profundas na região. Só na semana que vem a empresa pretende definir a estratégia para realizar testes no aqüífero da região e nos prédios e casas do entorno da Gillette que têm poços artesianos.
— Estamos nos preparando para conseguir atender à demanda nos nossos laboratórios -, disse o diretor de Controle de Poluição Ambiental da Cetesb, Otavio Okano.
A Vigilância Sanitária Municipal recebeu ontem a notificação da Cetesb para interditar dois poços artesianos no Shopping SP Market, próximo da Gillette. Segundo o shopping, os poços já foram fechados por iniciativa própria e a empresa só tem usado água tratada fornecida pela Sabesp. Mas a Vigilância deve interditar formalmente os poços do SP Market.
As empresas Grupo Viena, MWM International Motores, Baxter Hospitalar e a Sandvik do Brasil, que tiveram os poços lacrados em junho, garantem que desde a interdição só utilizam água fornecida pela Sabesp. Mesmo antes, segundo elas, a água dos poços não era usada para consumo humano.
A Vigilância Municipal e a Estadual definiram ontem um conjunto de medidas para normatizar o uso de água subterrânea na cidade. Segundo a Assessoria de Imprensa do órgão municipal, o texto será encaminhado à Secretaria da Saúde para ser publicado como portaria.
Também por causa das denúncias de contaminação, o deputado Donisete Braga (PT) pretende apresentar na Assembléia, no dia 2, um projeto que prevê a criação do Fundo Estadual de Prevenção e Remediação. A intenção é que empresas responsáveis por áreas contaminadas contribuam na arrecadação de fundos para combater danos ambientais, para que seja possível uma ação mais rápida em casos como o da zona sul.
Moradores de bairros próximos da fábrica da Gillette afirmaram ontem que não têm medo de ser afetados pela contaminação, pois suas casas são abastecidas pela Sabesp.
— O único contato que tenho com essa água é quando jogo bola na quadra, regada com água de poço -, disse o desenhista José Francisco de Souza.
A professora Erika Márcia de Oliveira, que mora na região há 20 anos, nunca teve poço. — Compro água potável – diz ela. Mas alguns moradores ficaram preocupados com a situação do SP Market. — Não estou tranqüilo, vou lá há muitos anos -, disse o comerciante Leandro Veríssimo. (O Estado de S. Paulo, 25/08)