Investigadores rejeitam provas sobre suposta bomba nuclear iraniana
2005-08-26
Restos de urânio enriquecido para ser usado em bombas atômicas, encontrado há dois anos em equipamentos usados nas centrais nucleares do Irã vieram de equipamentos paquistaneses contaminados, que foram vendidos aos iranianos, de acordo com um grupo de especialistas americanos e cientistas de outros países, segundo o jornal The Washington Post.
Cientistas dos Estados Unidos, França, Japão Reino Unido e Rússia se encontraram secretamente nos últimos nove meses para analisar informações recolhidas por inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Recentemente, o grupo, cuja existência não foi divulgada publicamente, comparou amostras de urânio altamente enriquecido --ingrediente-chave na fabricação de uma bomba nuclear-- com amostras de material encontrado em partes de uma centrífuga nuclear, e concluíram que a substância estava presente nos equipamentos paquistaneses comercializados ao Irã.
Em 26 de maio passado, o Paquistão enviou à AIEA equipamentos semelhantes aos que foram vendidos ao Irã por Abdul Qadeer Khan, o pai do programa nuclear paquistanês, que está sendo mantido em prisão domiciliar na capital Islamabad, desde que admitiu ter vendido ilegalmente a tecnologia para outros países.
O governo iraniano afirmou reiteradas vezes que os traços de urânio enriquecido encontrados em seus equipamentos era porque a infra-estrutura comercializada pelo Paquistão ao país já estava contaminada.
As conclusões dos pesquisadores serão repassadas à AIEA no início do próximo mês, segundo os cientistas, que falaram ao jornal americano com a condição de não serem identificados.
Segundo o Post, funcionários do gabinete do presidente americano, George W. Bush, sabem há meses que a presença do urânio no equipamento não poderia ser considerada uma prova da fabricação de armas nucleares no Irã.
As conclusões do grupo de pesquisadores vêm à tona em um momento difícil para a política internacional iraniana, em que negociadores internacionais de França, Alemanha e Reino Unido tentam propor um acordo para que o Irã suspenda o seu programa nuclear.
Os EUA dizem que o programa nuclear iraniano tem por objetivo a fabricação de armamento nuclear. O governo do Irã afirma, entretanto, que o desenvolvimento nessa área tem por objetivo a fabricação de combustível para a produção de energia no país.
O governo americano ameaça levar a questão do Irã ao Conselho de Segurança da ONU --capaz de impor sanções econômicas e diplomáticas ao país.
De acordo com o Post, o Irã desenvolveu o seu programa nuclear em segredo e com a ajuda do pai da bomba atômica paquistanês, que confessou ter vendido a tecnologia também para a Líbia e Coréia do Norte. Com isso, ganhou um perdão parcial do governo, e é mantido em prisão domiciliar atualmente.
O Paquistão tem rejeitado os pedidos dos investigadores da AIEA de conversarem com Khan, ou de visitarem as instalações nucleares do país.
Esse já é o terceiro ano que a AIEA investiga o programa nuclear iraniano e, por enquanto, nenhuma prova sobre a fabricação de armas nucleares foi encontrada.(FSP, 25/8)