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2005-08-25
Muitas empresas que buscam implementar programas de ecoeficiência esbarram em um mesmo obstáculo: onde encontrar recursos para financiar as ações desejadas. O sistema bancário está ciente do crescimento dessa demanda e oferece, cada vez mais, linhas de crédito que podem ser usadas com este fim.

— Hoje é mais fácil conseguir dinheiro do que há alguns anos, o mercado está mais profissional -, diz Ricardo Esparta, diretor da EcoInvest Assessoria. Esparta conhece o ramo. Engenheiro químico, ele abriu sua empresa em 1999, em parceria com um amigo que trabalhava no mercado financeiro. Por isso, desde o início, ambos deixam bem claro para o cliente que os projetos precisam ser (1) economicamente viáveis, (2) justos do ponto de vista social, e (3) sustentáveis ambientalmente.

Para os bancos, a lucratividade é condição essencial para a concessão de empréstimos.

— Adoramos lucro -, avisa Victor Hugo Kamphorst, superintendente-executivo de sustentabilidade de negócios sócio-ambientais do banco ABN Amro Real. Atualmente, a instituição tem 27 produtos dedicados ao financiamento de pessoas físicas e jurídicas nas áreas ambiental, educacional e social.

Especificamente no segmento de meio ambiente, há oito linhas para pessoa física e 16 para empresas. As taxas de juros variam de acordo com o produto. Nos empréstimos em dólar, por exemplo, o juro cobrado vai de 5% a 9% ao ano, mais variação cambial.

Os interessados devem apresentar ao ABN Real um resumo do projeto. — É algo de uma página -, frisa Kamphorst. Se a idéia agradar, o banco pede que a empresa preencha um formulário-padrão com o plano de negócio detalhado. Em caso de aprovação, a instituição avalia qual produto de crédito de seu portfólio mais se adequa à proposta e finaliza a operação. Kamphorst diz que, em geral, a parte mais difícil do processo é a relacionada às garantias.

— No Brasil, por causa do risco jurídico, garantia não paga nada. Por isso, temos mesmo de acreditar no fluxo de caixa do projeto – critica.

O Banco do Nordeste (BNB) também oferece linhas de financiamento que podem ser utilizadas por empresas dispostas a promover a ecoeficiência. A principal delas é o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) Verde. A carteira é formada por recursos oriundos do recolhimento de impostos e totaliza, hoje, cerca de R$ 100 milhões.

Os juros cobrados variam de 6% a 14% ao ano, com prazos de até 12 anos para pagar e carência de até quatro anos. — Quem paga ganha desconto -, ressalta Francisco José Araújo Bezerra, gerente da área de política de desenvolvimento do BNB. Para os tomadores que vivem no semi-árido, o bônus é de 25%. Para quem está fora dessa área, é de 15%.

Entre os projetos financiados pelo FNE Verde, destacam-se os de agropecuária orgânica, coleta e reciclagem de lixo, fontes alternativas de energia e florestamento e reflorestamento (os dois últimos formam a maior parte da carteira de empréstimos). Para ter acesso ao dinheiro, o BNB exige a apresentação de um projeto de viabilidade técnico-econômico-financeira, cadastro idôneo da empresa e de seus sócios, além de uma análise de risco do projeto e da atividade. De acordo com Bezerra, até 2003 a demanda era inexpressiva. De lá para cá, vem crescendo.

— Essa mudança certamente tem relação com o aumento da preocupação das empresas com o tema.

No Banco do Brasil, diversas linhas de financiamento estão à disposição de clientes que querem investir em ecoeficiência. Há produtos para agricultura orgânica, florestamento e reflorestamento e para bancar projetos de conversão e certificação, entre outros. O mais novo deles é o Programa de Apoio à Produção e Uso do Biodiesel (BB Biodiesel), lançado no início de agosto. O objetivo principal é estimular a produção da mamona, matéria-prima desse tipo de combustível.

O gerente-executivo de responsabilidade sócio-ambiental do BB, Antônio Sérgio Riede, adianta que está em fase final de formatação um produto de financiamento voltado para o mercado de crédito de carbono.

— O projeto será avaliado pelo Conselho Diretor do banco e acreditamos que, em um mês, estará na praça -, diz.

O Banco do Brasil e o ABN Real estão entre as instituições financeiras do país que seguem os Princípios do Equador. O documento, criado pelo International Finance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco Mundial, estabelece uma série de critérios de sustentabilidade e responsabilidade corporativa para a concessão de crédito.

Entre as diretrizes, destacam-se a proteção a hábitats naturais, segurança de barragens, propriedade cultural e proteção da saúde humana. O IFC sugere que os princípios sejam adotados para projetos cujo investimento seja igual ou maior que US$ 50 milhões. Esse valor, porém, pode ser alterado de acordo com cada instituição. No BB, por exemplo, os critérios já são considerados em projetos a partir de R$ 10 milhões.

O estímulo para as corporações investirem em projetos de ecoeficiência vem de diversos lados. Há, por exemplo, casos em que pequenas e médias empresas têm de promover melhoras a pedido de clientes de maior porte, que não querem ter seus nomes (e imagem) vinculados a fornecedores que contrariam os conceitos de sustentabilidade.

Quando se fala nesse assunto, vem à tona o caso da Nike. Como se sabe, a fabricante de material esportivo teve sérios problemas depois que se descobriu que alguns de seus fornecedores na Ásia utilizavam mão-de-obra infantil.

— A empresa teve de gastar bilhões de dólares para recuperar a imagem -, lembra Ricardo Pinto Nogueira, superintendente de Operações da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). (Valor Online, 24/08)

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