Agências internacionais de financiamento cobram resultados
2005-08-23
O Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza (CDVHS), fundado há 11 anos no bairro Bom Jardim, em Fortaleza (CE) sempre contou com ajuda financeira de cooperadores internacionais. Missionários Cambonianos da Itália foram os primeiros e continuam ainda hoje. Entre 1996 e 2003, projetos da entidade foram financiados pela agência Desenvolvimento e Paz. E, em 1997, foi aprovado o primeiro triênio com a Cordaid, agência holandesa que continua parceira do CDVHS.
De acordo com a coordenadora geral do Centro, Lúcia Albuquerque do Carmo, o contrato com a entidade canadense rompeu porque a agência passou a priorizar mais movimentos populares do que ONG´s.
Entre as agências financiadoras mais tradicionais, o deslocamento de recursos ocorreu para priorizar países mais pobres do que o Brasil.
Entretanto, na opinião de Lúcia Albuquerque, o aspecto mais forte é a busca de resultados. Agora, para manter o financiamento e conseguir recursos para novos projetos, as ONG´s locais precisam mostrar serviço.
— É para justificar o fato de as agências continuarem investindo no Brasil -, diz.
Lúcia Albuquerque conta que, em 2000, a holandesa Cordaid começou a repensar o direcionamento de verba. Antes disso, a América Latina ganhava 40% dos investimentos. Depois, o índice caiu para 10%, enquanto a África ficou com 50%, e a Ásia, com 10%.
— Nós não temos só que receber. Temos que oferecer experiências concretas que sirvam de exemplo para outros países -, explica Lúcia, referindo-se ao que hoje é solicitado pelas cooperadores internacionais.
Terrorismo é um dos motivos para queda dos investimentos
Na opinião de Lúcia Albuquerque, coordenadora do Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza, há ainda outros aspectos que estão deslocando recursos das ONGs. O terrorismo é um deles.
— As pessoas estão mais preocupadas em resolver os próprios problemas, não o de outros países -, alega.
Entre tantos resultados cobrados pelas agências internacionais, ela destaca que o CDVHS está mudando o perfil das famílias no Grande Bom Jardim, que abriga cinco bairros e 175 mil habitantes.
Há 11 anos, o único fax da área era o do Centro; hoje várias instituições e associações são equipadas com computadores. Enquanto em 1996 havia oito escolas públicas na localidade, hoje são 32.
— Atribuímos isso à reivindicação nossa e a parcerias com o poder público -, afirma Lúcia.
Os bairros Canindezinho, Siqueira, Granja Portugal, Granja Lisboa e o próprio Bom Jardim estão mais organizados e congregam 22 comunidades, sendo que 62% da população ganham de dois a 2,5 salários mínimos. E há muito o que fazer ainda. O Grande Bom Jardim não tem banco e convive há anos com a carência de famílias que vivem às margens do Rio Maranguapinho.
— Temos bons resultados, mas a nossa meta não é substituir o Estado. Queremos resultado sim, mas fruto de articulação com outras ONG´s e com a intervenção do Estado. Demandas não faltam -, avalia a coordenadora, completando que a busca maior, hoje, é pela sustentabilidade. Um exemplo é a loja do Fundesol, em que são vendidos artigos produzidos ali e efetivados financiamentos para pequenos produtores. (Diário do Nordeste, 22/08)
Nota do Ambiente Já: Para mais informações sobre o trabalho do Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza (CDVHS) visite o site da organização: www.cdvhs.org.br/,