Brasileiro é obrigado a ingerir flúor adicionado à água
2005-08-23
Por Cláudia Rodrigues, especial para o Ambiente JÁ
Em setembro de 2003 uma petição internacional assinada por mais de 300 técnicos, cientistas e ambientalistas de 37 países, pediu a revisão, esclarecimento e discussão sobre os benefícios e malefícios da adição à água encanada do flúor, utilizado como preventivo de cáries.
Atendendo à petição, foram apresentadas várias pesquisas abordando os riscos para a saúde geral do corpo, especialmente dos ossos, devido à ingestão desse íon tão potente que quando ultrapassa 1 ppm já causa problema até nos dentes.
Alguns países retiraram o flúor da água e mandaram adicioná-lo ao sal de cozinha, já que se consome menos sal do que água, o que reduziria o risco de ingestão excessiva do flúor. Outros simplesmente não utilizam mais o íon como preventivo de cáries, apostam na educação alimentar e higiênica.
No Canadá, Cuba e Finlândia, alguns dos países que pararam de fluoretar suas águas, os índices de cáries continuaram caindo (graças à educação alimentar e higiênica), sinal de que o flúor não exercia influência tão inquestionável nesse aspecto.
Estudos sobre a ingestão de flúor adicionado à água, alimentos, leites em pó e a alguns medicamentos, apontam malefícios graves e cumulativos para a saúde em geral. Os danos começam pela fluorose, que pode ser leve, causando manchas esbranquiçadas nos dentes; ou grave, quando a dentição permanente fica com manchas marrons ou chega a ser perdida, esfacelando os dentes. Para que isso ocorra basta que crianças de zero a seis anos sejam expostas à ingestão de flúor. O resultado visível só aparece nos dentes permanentes, já a ingestão de flúor na gravidez compromete a primeira dentição.
No Brasil, a adição de flúor à água começou em 1953 em Baixo Guandu, ES, virou lei federal (6.050/74) e a campanha da fluoretação das águas, abraçada pela odontologia em parceria com sucessivos governos desde a década de 1960 continua em alta e tem como meta atingir 100% da água brasileira encanada. Águas potáveis também recebem flúor e algumas águas minerais possuem mais flúor em sua composição do que é recomendado para evitar a fluorose, que é algo situado entre 0,5 ppm e 1ppm, dependendo da temperatura ambiente, já que no verão ou em locais mais quentes se consome mais água.
Os odontologistas que defendem e têm o poder de manter a adição do flúor na água potável e encanada afirmam ser a fluorose - que atingiu adolescentes nas últimas gerações - um problema menor diante das evidências de redução das cáries, comprovadas por várias teses que defendem esse método como o mais eficaz para reduzir índices de cárie quem variam entre 20% e 60%.
O flúor nos dentes
A redução de cáries por acesso ao flúor ocorre em decorrência de uma regulação do ph bucal, que teria maior constância via corrente sangüínea a partir da ingestão dessa substância. Após escovarmos os dentes com creme dental fluoretado mantemos o ph ideal por cerca de duas horas, não muito mais.
Apesar da campanha pró-ingestão de flúor, nenhum dentista defende a água fluoretada sem a dobradinha boa higiene e boa alimentação. Não há ph administrado pelo flúor que regule os detritos retidos entre os dentes; esses detritos desregulam o ph, tornando-o mais ácido, o que favorece o surgimento de cáries e outras doenças periodontais.
O açúcar torna o ph do sangue muito ácido e ao lado dele o outro grande vilão é o carboidrato, por isso os odontologistas condenam o abuso de doces, biscoitos e pães entre as refeições, especialmente os feitos com farinhas refinadas. Segundo Pedro Cordeiro, dentista em Florianópolis, uma boa alimentação e uma escovação bem feita três vezes ao dia são métodos extremamente eficazes para a prevenção de cáries.
— Recomendo aos pais que não usem creme dental fluoretado em crianças até cinco anos pois é possível que engulam o creme acidentalmente ou voluntariamente, o que acarretaria a fluorose. Uso de fio dental, escovação com água e uma boa alimentação, são suficientes para evitar o surgimento de cáries em qualquer idade-, garante o dentista.
O flúor no corpo
Quando ingerido o flúor é rapidamente absorvido pela mucosa do estômago e do intestino delgado. Sabe-se que 50% dele é eliminado pelos rins e que a outra metade aloja-se junto ao cálcio dos tecidos conjuntivos. Dentes e ossos, ao longo do tempo, passam a ficar deformados, surgem doenças e rachaduras.
A hipermineralização dos tecidos conectivos dos ossos, da pele e da parede das artérias é afetada, os tecidos perdem a flexibilidade, se tornam rígidos e quebradiços. Para que tudo isso ocorra, segundo estudo de 1977 da National Academy of Sciences, dos EUA, o corpo humano precisaria absorver durante 40 anos apenas 2mg de flúor por dia.
Parece difícil ingerir tanto, mas a fluorose já é um fato, talvez porque ao lado da fluoretação em massa das águas surgiu um uso abusivo de flúor por parte da indústria alimentícia, que se apoderou do marketing que aliou o flúor a dentes fortes. Estudos químicos comprovam que o flúor é tão tóxico como o chumbo e, como este, cumulativo. Quanto mais velhos mais aumentamos a concentração de flúor nos nossos ossos, o que traz maiores riscos de rachaduras e doenças como a osteoporose.
Medidas seguras
Na água potável encanada são recomendados no máximo 0,6 ppm de flúor, o que causa em crianças menores de sete anos uma fluorose mínima ao nascerem os dentes permanentes. — Acima de 1,5ppm de flúor na água bebida por crianças menores de sete anos a fluorose é mais agressiva e pode causar má aparência nos dentes permanentes, mas existe tratamento para essa fluorose nos consultórios dentários-, garante o professor Jaime Cury, da Unicamp.
Em Cocalzinho, cidade de Santa Catarina, o flúor contido numa água natural, (1000 ppm) causou sérios danos aos dentes das crianças da região, com perdas parciais e totais dos dentes permanentes. Profissionais de várias partes do Brasil interessaram-se pelo caso, que foi documentado no final da década de 1980. Em 2004 a água mineral Charrua, do RS, apresentava 4ppm de flúor, o que pode resultar em fluorose avançada.
O flúor está presente nos cremes dentais desde 1989, inclusive nos infantis, sendo hoje impossível encontrar no mercado convencional um creme dental para uso diário sem o íon. Normalmente os cremes dentais recebem de 1000 ppm a 1800 ppm de flúor. Não há pesquisa que ateste que o flúor aplicado, sem ingestão, cause qualquer mal, mas segundo vários estudos em odontopediatria os problemas de fluorose verificados em todo o Brasil nos últimos anos estão relacionados ao uso de creme dental porque crianças pequenas, além de serem extremamente vulneráveis à ingestão do flúor, engolem acidentalmente ou voluntariamente o creme dental.
Uma das razões da ingestão voluntária, em crianças maiores de 3 anos, se deve ao sabor doce dos géis dentais infantis. A capital que apresenta o maior índice de fluorose dentária em pessoas entre 12 e 19 anos é Porto Alegre, mas a fluorose é uma realidade na Bahia, em São Paulo, no Espírito Santo, no Rio de Janeiro e em outros Estados onde ocorre a fluoretação das águas.
Diferenças de miligramas são fatais
O argumento que sustenta a adição de flúor à água potável encanada e às águas engarrafadas baseia-se na defesa do controle da cárie infantil, mas quando as águas brasileiras começaram a ser fluoretadas, em 1974, os cremes dentais não eram fluoretados e as informações sobre os hábitos de higiene e de alimentação iniciavam nas capitais e cidades maiores.
Naquela época o flúor ainda não era adicionado a medicamentos, chicletes, biscoitos e leites em pó para bebês, que quando somados ao flúor da água ultrapassam o nível recomendado para lactantes em até 80%. O leite humano possui cerca de 00,1ppm de flúor, uma quantidade já bastante inferior à dos leites em pó. Hoje se encontra flúor adicionado em vários produtos comestíveis, como se fosse uma espécie de vitamina.
Como um dos efeitos do flúor é o torpor mental, ele é utilizado em larga escala nos medicamentos psiquiátricos e durante a década de 1980, quando a fama do flúor como preventivo de cáries era inquestionável, muitas mulheres grávidas tiveram prescrição para tomar comprimidos que incluíam o flúor na composição. Hoje já não se receitam suplementos de flúor para gestantes pois as que tomaram enfrentaram problemas de fluorose na primeira dentição de seus filhos. Foi um teste científico que não deu certo, mas não foi o primeiro. As primeiras pesquisas com ingestão de flúor em humanos foram feitas em campos de concentração nazistas com o intuito de acalmar os prisioneiros, que ingeriam o íon a partir da água. Com o mesmo objetivo o flúor é adicionado a alguns medicamentos psiquiátricos hoje em dia.
A regulação do ph da boca pelo flúor presente na corrente sangüínea pode ser facilmente alcançada sem ingestão de flúor por uma alimentação pobre em açúcar refinado, moderada em carboidratos, rica em cereais, vegetais e frutas que somada a bons hábitos de higiene é capaz de erradicar a cárie, a exemplo do que ocorre na Suécia, país que não faz a fluoretação de suas águas e tem índice zero de cáries. A Associação Brasileira de Odontologia recomenda a adição de flúor à água potável como método preventivo fundamental para o Brasil, país grande, de população pobre e desinformada sobre os hábitos de higiene e de alimentação.
Segundo o professor Jaime Cury, o flúor adicionado à água tem uma importância social inquestionável. — Gostaria de ser o primeiro a anunciar que o flúor não precisa mais ser adicionado à água, mas o povo brasileiro, a maior parte da população, a que é pobre e desinformada, não escova os dentes corretamente, não pode cuidar da alimentação e é beneficiada pela adição de flúor na água-. Para ele, a fluorose leve, que não causa mal-estar social, nem deveria ser considerada um problema ou doença porque as crianças com fluorose leve, manchinhas brancas, têm dentes mais fortes.
Questões políticas
A ciência odontológica vê a fluorose como problema principal em conseqüência da adição de flúor à água, mas médicos, químicos e toxicologistas afirmam que a fluorose é apenas o começo de um problema espalhado por todos os ossos do corpo, sobrecarregando a glândula pineal e acarretando outras conseqüências na saúde devido a alteração do funcionamento bioquímico. Eles alertam que as doenças podem demorar anos para surgir, pois o flúor é cumulativo.
O flúor que ingerimos via água encanada é um dos maiores subprodutos da indústria de alumínio e durante muito tempo esse resíduo foi um problema, já que não poderia ser jogado na natureza justamente por ser muito reativo e combinar mal com outros elementos. Nunca houve uma denúncia formal nesse sentido, mas já se difundiu a suspeita de que o uso do flúor na água e outros produtos da sociedade de consumo seria fruto de uma antiga negociação entre diversos ramos empresariais.
Polêmica à parte, algo não está sendo levado em conta: não se encontra água que não tenha sofrido adição de flúor. Por uma convenção entre sucessivos governos e as ciências odontológicas, o brasileiro perdeu o direito de beber água sem o aditivo.