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2005-08-22
O esboço de um relatório do Banco Mundial (Bird) com duras críticas à política sucroalcooleira brasileira mobilizou governo e usineiros a tentar, por meio de ações políticas, reverter ou amenizar o teor final do documento a ser divulgado em setembro, na Índia. Intitulado Potencial dos Biocombustíveis para Transportes em Países em Desenvolvimento, o documento foi elaborado pelo Grupo Temático para a Qualidade do Ar do Banco Mundial, e deveria ser confidencial.

Logo após a conferência da Agência Nacional de Energia, em julho, o governo brasileiro tomou conhecimento do teor das críticas e o estudo vazou. Entre outros, tiveram acesso a ele o Ministério da Agricultura e a União da Agroindústria Canavieira (Unica), que prepararam ações na tentativa de mudá-lo ou contestá-lo antes da publicação final.

A Agência Estado teve acesso ao pré-relatório com 125 páginas no qual, em resumo, o Bird sustenta que o uso do álcool como combustível no Brasil nos últimos 30 anos, desde o início do Proálcool, só deu certo por causa da concessão de subsídios, o que ocorreria até hoje pelo desrespeito a questões ambientais, fundiárias e trabalhistas.

— Se o governo brasileiro deixasse a indústria de bioetanol operar sem o suporte governamental por um bom tempo, tanto em períodos de alta como de baixa seria uma inestimável contribuição informativa para outros países que pensam em adotar programas de biocombustíveis. Questões fiscais à parte, outras conseqüências negativas do programa incluem a exacerbação dos problemas trabalhistas, contaminação hídrica e atmosférica pela queimada de resíduos e a competição com outros produtos agrícolas e alimentares -, diz o trecho.

O Banco Mundial diz ainda que o etanol é, em alguns casos, mais poluidor que a gasolina, e pode causar danos aos motores. O Brasil é utilizado no texto como o exemplo do único país em desenvolvimento em que há um projeto de uso de etanol. O Bird até admite que — no curto prazo, o etanol da cana-de-açúcar é o que parece ter melhor condição de se tornar comercialmente viável -, mas no médio prazo os custos de outras matérias-primas agrícolas para a produção de etanol cairão, e se tornarão competitivas. Já no longo prazo, a aposta do banco é no uso do álcool de madeira como principal combustível renovável.

Ao tomar conhecimento do relatório, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, sugeriu ao representante brasileiro junto ao Banco Mundial, Otaviano Canuto que intercedesse e encomendou à Câmara Setorial do Açúcar e do Álcool do seu ministério uma resposta para ser dada na conferência na Índia. (Agência Estado - Gazeta de Cuiabá, 21/08)

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