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2005-08-19
A poluição atmosférica mata indiretamente, em média, oito pessoas por dia na cidade de São Paulo. A exposição aos diversos poluentes emitidos também reduz a expectativa de vida dos habitantes: pesquisas indicam que o paulistano perde dois anos de vida por morar em um local poluído.

Apesar de assustadores, esses números já foram maiores -chegaram a 12 mortes diárias indiretamente causadas por poluentes e três anos de vida perdidos.

Os dados, baseados em diversos estudos do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP, mostram que ações como o Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores) e o rodízio foram positivas para a melhoria da qualidade de vida na capital.

Mas, segundo o professor Paulo Saldiva, as conseqüências da poluição à saúde ainda são alarmantes e é preciso mais medidas para enfrentá-las.

— Diferentemente do cigarro, a poluição do ar não pode ser evitada pelas pessoas.

Segundo ele, quem mais tem problema de saúde decorrente da inalação de poluentes são os idosos, que acabam sendo vítimas principalmente de pneumonia, infarto agudo do miocárdio e enfisema. Já as crianças, que vêm na seqüência na lista de mais afetadas, têm pneumonia e asma.

A pneumonia, inclusive, foi a terceira principal causa de morte na capital no ano passado. O número de casos da doença que resultaram em óbito aumentou 11% de 2003 a 2004, segundo levantamento da CEInfo (Coordenação de Epidemiologia e Informação), da Secretaria Municipal da Saúde.

— Mesmo as pessoas saudáveis sofrem os efeitos da poluição e ficam mais hipertensas nos dias poluídos -, afirmou Saldiva. Além das oito mortes diárias induzidas pela poluição, uma pesquisa do laboratório indica que há um aborto por dia na cidade, depois do quinto mês de gestação, em decorrência do problema.

— O fluxo arterial na placenta se reduz nos dias de maior poluição.

O vilão Para medir quem mais contribui com a emissão de gases de efeito estufa e listar medidas para reduzi-los, a Prefeitura de São Paulo pediu inventário ao Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (Centro Clima) da UFRJ.

A pesquisa, apresentada ontem, mostra que o uso de energia é o principal responsável pela emissão de metano e dióxido de carbono, com 76%. O relatório, referente a 2003, é o segundo feito em âmbito municipal. O primeiro foi feito no Rio de Janeiro em 1998.

Nesse estudo, o vilão mais uma vez foi o transporte. A utilização de combustíveis fósseis representa 88,7% das emissões decorrentes do uso de energia -e a gasolina é o combustível que mais contribui para a poluição, com 35,7%.

— Agora, é necessário criar cenários com alternativas para mitigar as emissões e, depois, propor políticas públicas -, disse a coordenadora-executiva do inventário, Carolina Dubeux. Ela sugere estudar a troca de combustível (usar o álcool em vez da gasolina) ou a ampliação do uso do metrô.

— A diminuição da poluição depende de práticas do dia-a-dia -, diz o secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge.

Sua pasta iniciou, há um mês, a inspeção veicular dos ônibus do transporte público para minimizar a emissão. Dos 225 ônibus fiscalizados até agora, de seis viações, 14 tinham situação irregular. (Folha de S.Paulo, 18/08)

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