Escola pública ensina a matemática da conservação aos estudantes
2005-08-19
Para quem acredita que educação
ambiental só se faz nas aulas de ciências e artes,
José Mendonça da Silva, conhecido como Professor
Bonança, da Escola Municipal Professor Benjamin de
Pádua, em Alta Floresta, mostra que a matemática pode
estimular a conservação dos recursos naturais.
— Trabalhar álgebra é uma coisa complicada, ensinar
fórmulas, essas coisas-, relata Prof. Bonança, — e o que
a gente fez foi aproximar esses conteúdos do cotidiano
dos estudantes.
Com essa idéia, as aulas de matemática serviram para calcular as áreas de
preservação permanente das nascentes, trabalho que
exigiu, além de muita fórmula, estudos sobre o que são
nascentes, como é feita a recarga das águas
subterrâneas e a importância da preservação das matas
ciliares.
E os estudantes gostaram da experiência. Durante a
feira de ciências da escola, na última sexta-feira,
dia 12, o entusiasmo com a proposta era evidente. — A
gente nunca tinha trabalhado matemática e ciência, é
uma experiência nova-, relata Jéssica Aparecida de
Carvalho Duarte, 13 anos, do terceiro ciclo,
acrescentando que, depois do conteúdo estudado, ficou
com vontade de conhecer uma nascente pessoalmente:
deve ser emocionante.
Alinhavando o trabalho em toda a escola, a proposta
interdisciplinar se reflete no projeto demonstrativo
do professor Rosinei Francisco de Lima. Ele e um grupo
de adolescentes montaram um sistema de tanques de
recolhimento da água do bebedouro, para mostrar à toda
a escola o volume do desperdício. A água é recolhida
em um tanque, ligado por desnível a outro, quando o
segundo enche, transborda, mostrando que o nível de
desperdício está alto demais. — Em três meses,
reduzimos a conta de água da escola em R$ 300-, conta
o Prof. Rosinei.
Parte da água é usada para regar o jardim comestível,
conectando-se com outro projeto da escola, no pátio
interno localizado nos fundos da construção. Ali, até
2000, era queimado o lixo da escola. Com a assinatura
do Protocolo do Fogo naquele ano, a escola aboliu o
fogo e o espaço começou a ser recuperado. Hoje abriga
um lago artificial e canteiros com árvores frutíferas
e diversas plantas, todas cuidadas pelos professores e
estudantes, baseados em princípios da permacultura.
E as lições aprendidas estão chegando em casa. Que o
diga Bruna Pinheiro, de 9 anos, da turma da professora
Eliana Barreto. — Meu vô planta mandioca e juntava
todas as folhas e botava fora. Depois que aprendi a
usar o mulch, eu falei pra ele não jogar mais fora e
usar para proteger o solo-,conta. Mulch é uma técnica que
usa material tal como palha, serragem e folhas
espalhados na superfície do solo, para protege-lo dos
impactos diretos das gotas de chuva e raios de sol.
Para o Prof. Bonança, o resultado é dos mais
promissores, tanto que está planejando utilizar o tema
recursos hídricos para trabalhar matemática
financeira, com a última fase do ensino fundamental.
— Vamos tentar associar a vazão de uma nascente com o
nível de consumo-, adianta. A julgar pela conversa dos
estudantes da escola, a matemática da conservação está
dando resultado. Exemplo disso é a reflexão de Larissa
Ferreira de Sousa, 12 anos: — é importante preservar as
nascentes, senão diminui a água, a população
aumenta... a gente precisa de água para sobreviver.
(Com informações da Agência de Notícias Ambientais Estação Vida)