Falta de recursos no Ibama compromete combate ao fogo e desmatamento
2005-08-19
O esgotamento dos recursos disponíveis no Ibama para fiscalização ambiental pode levar a novo aumento do desmatamento e da atividade madeireira ilegal na Amazônia. Os R$ 28 milhões destinados este ano à fiscalização se esgotaram na semana passada. Outros R$ 8 milhões permanecem contingenciados e não podem ser gastos. No momento, 12 operações de fiscalização estão em curso na região e deverão ter sua continuidade comprometida. Novas operações não poderão ser realizadas.
A notícia chega exatamente no momento em que a exploração madeireira se intensifica e as queimadas na Amazônia aumentam em escala nesta época do ano. Ontem, o site do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Ambientais) apontava alta concentração de focos de calor no norte de Rondônia, divisa dos estados do Acre e Amazonas, e noroeste de Mato Grosso. Segundo o Instituto, o risco de fogo previsto é critico para toda a região Centro-Oeste e boa parte do Nordeste, Acre, Rondônia, Sul do Pará e Amazonas. Em várias regiões não chove há 40 dias, a temperatura máxima chega aos 34 graus e a umidade relativa mínima está abaixo dos 30%.
A desobediência à legislação que proíbe as queimadas e a falta de recursos para o Ibama estão entre os fatos documentados pela expedição BR-163 - Amazônia: Salvar ou Destruir?, do Greenpeace. Os integrantes da expedição apresentaram hoje nove fotografias que demonstram a histórica ausência de governo na região da estrada, que liga Santarém a Cuiabá. A exposição foi colocada em uma praça no centro de Cuiabá, encerrando as atividades da expedição.
—A falta de recursos para o Ibama fiscalizar é um dos componentes da ausência de governo na região amazônica, que pudemos constatar em nossa expedição pela área de influência da BR-163-, afirma Nilo DAvila, coordenador da expedição.
Os ativistas do Greenpeace partiram de Santarém no dia 27 de julho. Durante 23 dias, presenciaram a exploração madeireira sem controle, invasão de unidades de conservação, desmatamento ilegal, queimadas e destruição de castanhais nativos. —Infelizmente, o esgotamento dos recursos no meio do ano demonstra a falta de prioridade do governo Lula para a questão ambiental. Se o governo não se fizer presente imediatamente, corremos o risco de perder toda a floresta que ainda resta nessa região-, afirmou DAvila.
Durante a expedição, o Greenpeace pôde constatar também uma queda na atividade madeireira, reflexo de medidas adotadas pelo Ibama e da Operação Curupira. —O fluxo de madeira ilegal caiu-, disse DÁvila. — Isso demonstra que, quando age, o governo pode fazer diferença.
O asfaltamento total da rodovia BR-163 é uma das obras prioritárias do governo Lula. Com 1.764 quilômetros de extensão, dos quais cerca de 900 quilômetros não pavimentados, a rodovia liga Cuiabá, capital do Mato Grosso, à cidade portuária de Santarém, no Pará.
Em 2002, a parte asfaltada da estrada no Mato Grosso tinha perdido 57% da cobertura florestal na faixa de 50 km de cada lado da estrada. No trecho paraense, não asfaltado, o desmatamento não passava de 9%. O Greenpeace acredita que, antes do asfalto, precisa chegar o governo. O Estado brasileiro deve se fazer presente de forma permanente na Amazônia, através do fortalecimento das instituições como Ibama, Incra e Polícia Federal; da criação e implementação efetiva das áreas protegidas; e da adoção de medidas estruturantes, tais como o apoio à produção familiar e o estímulo a atividades florestais realmente sustentáveis que resultem em um modelo de desenvolvimento que combine proteção ambiental e justiça social para os milhões de brasileiros que vivem na Amazônia. (Com informações do Greenpeace)