ONGs entregam lista com fontes para fiscalização inteligente do Ibama
2005-08-18
Por Silvia Marcuzzo*
Na última sexta-feira, 12 de agosto, a Rede de Ongs da Mata Atlântica entregou uma lista com os
nomes dos coordenadores e dos elos da Rede para a Diretoria de Proteção do
Ibama. O repasse de informações foi feito durante a apresentação do
Plano de Monitoramento e Controle do Ibama para as entidades que
desenvolvem trabalhos no bioma Mata Atlântica.
Os técnicos do Ibama aprofundaram um pouco mais o assunto, que já havia
sido apresentado em primeira mão à RMA, durante a reunião da coordenação
no início deste mês. O trabalho retoma o que preconiza a chamada Carta
de Tamandaré, documento assinado em julho de 2003, que estipula uma
parceria entre MMA, Ibama e RMA na prevenção e participação das ONGs no
combate aos crimes contra a Mata Atlântica.
Para a coordenadora geral da RMA, Miriam Prochnow, a parceria com o
órgão atende uma antiga reivindicação da Rede. — É muito importante a
participação das entidades nesse processo -, analisa. Para Miriam, além de ser
necessária a ampliação das ações de fiscalização no campo, é preciso
implementar outras formas de controle. Nesse sentido, a fiscalização
por imagens de satélite e com cruzamento de bancos de dados é fundamental.
A diretriz do Ibama é fazer uma fiscalização integrada, que verifique a
situação ambiental, trabalhista, fundiária, tributária e rodoviária do
ilícito que está sendo averiguado. O Ibama também conta com
descrições do Ato Declaratório Ambiental (ADA). O consultor Guilherme Abdala,
da Diretoria de Proteção Ambiental acrescenta ainda que o ADA precisa
ser aprimorado para o monitoramento.
Um desafio será dispor das bases cadastrais fundiárias do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Há cerca de um mês, 0,04% das
propriedades registradas no Incra estavam georeferenciadas. A Lei 10.267
já obriga o georeferenciamento de propriedades rurais. O ideal será
quando o sistema apontar, através do sensoreamento remoto, a área que
estiver sendo violada, e apresentar o CNPJ ou CPF de seu proprietário.
Centro de Monitoramento
Para saber a situação em cada um desses segmentos é necessário acessar
vários bancos de dados. Só o Ibama conta com 24 sistemas, sendo que
grande parte não se comunica entre si. Atualmente, o Centro de
Monitoramento Ambiental do Ibama está sendo reestruturado dentro do
órgão. Também foi aberto diálogo com outros ministérios e estatais para
integração desses dados.
Alguns segmentos dispõem de potentes bancos de dados. Um deles é do
setor petrolífero. O Bampetro é um dos maiores. Contém informações
sobre todos aspectos ambientais das costas de São Paulo, Rio de Janeiro
e Espírito Santo. Hoje esses dados são utilizados apenas internamente
pela Petrobrás.
A ação da fiscalização tem um grande potencial de produção de
informações. Só que nesse ponto, a situação talvez seja mais complicada
do que a integração de dados. O Ibama já conta com o SISFISC, um sistema
da fiscalização, que permite que o auto de infração seja escrito em meio
digital e, automaticamente, já seja disponibilizado on
line. É a tecnologia do Autotrack. Dessa forma, o carro do fiscal é
rastreado
desde que deixa a sede do instituto. O SISFISC abre janelas de outros
sistemas,
como o do SISPROF, que traz dados sobre autorização de corte, planos de
manejo etc.
Informações das ONGs são preciosas para a fiscalização
Mesmo com os rastreamentos via satélite, principalmente no caso da Mata
Atlântica, a situação precisa mesmo ser constatada por terra. Os
desmatamentos vão acontecendo aos poucos e, de uma hora para outra, a
área invadida vira uma cidade; uma estrada é aberta, da noite para o
dia. Muito diferente da Amazônia, onde os desmatamentos acima de seis
hectares são detectados por satélite.
Por isso mesmo que o Ibama pede a colaboração do movimento
ambientalista. Muitas ONGs tem mais informações sobre determinados
locais do que o próprio Estado. Para o Ibama, esses dados são
essenciais para a realização de uma fiscalização, baseada
em informações confiáveis. Dessa forma, em vez de o órgão ficar
procurando o problema, a operação vai direto no local da infração.
O programa de Agentes Ambientais Voluntários é encarado pelo instituto
como uma forma de cooperação da comunidade. A idéia é que as denúncias sejam
feitas pelos
voluntários diretamente ao órgão e não habilitar pessoas que possam
multar. Essas pessoas podem também auxiliar
na qualificação das denúncias feitas através da Linha Verde do Ibama.
Ambientalistas apóiam plano do Ibama
O monitoramento deve contar com a parceria da sociedade civil, pois
muitos órgãos não-governamentais dispõem de dados valiosos para o Ibama.
Os representantes das entidades que estiveram na reunião com o Ibama
gostaram da iniciativa do órgão. Entretanto, uma preocupação debatida na
reunião é como o Ibama deverá proceder quando os bancos de dados
estiverem interligados com outras instituições. As entidades estariam
dispostas a abrir seus arquivos para melhorar a fiscalização do Ibama? E
o Ibama deixaria as ONGs entrarem em seus bancos de dados? Este é um
ponto que precisa ter um debate mais ser aprofundado, inclusive dentro
das entidades que dispõem de bons acervos de informação.
O advogado Raul Telles, do Instituto Socioambiental (ISA), propõe que o
Ibama busque junto ao Departamento Nacional de Mineração (DNPM) dados
sobre autorizações de pesquisa e de lavra expedidos pelo órgão, já que
hoje são feitos sem qualquer consideração com o aspecto ambiental. Ele
lembrou que a mineração é uma atividade que vem trazendo graves
problemas aos ecossistemas da Mata Atlântica, dada a extrema
fragmentação de seus remanescentes.
Helena Maltez, do WWF-Brasil, salientou que a partir dos dados
levantados pelo órgão em parceria com a sociedade, poderá ser
neutralizada a pressão de políticos e do poder econômico sobre o que
ainda resta de Mata Atlântica. Além disso, Helena acredita que através
de mecanismos
econômicos, como ICMS Ecológico e a destinação de parte dos recursos
revertidos com a preservação para o município, pode-se obter bons
resultados.
Ela ainda defende que empresas e prefeituras sejam contempladas com
prêmios, a partir dos dados levantados pelo monitoramento. Aquelas que
cuidam mais do ambiente poderiam ser homenageadas, por exemplo. Outra
sugestão apontada pela ambientalista é a utilização de mecanismos de
autocontrole, onde a fiscalização é realizada pela própria comunidade.
*Silvia Marcuzzo é integrante da Rede de ONGs da Mata Atlântica.