Transposição do Pelotas começa sem licença ambiental
2005-08-18
A transposição de água do arroio Pelotas à Barragem Santa Bárbara começou ontem (17/8), com dois dias de atraso em relação aos planos do Serviço Autônomo de Saneamento de Pelotas (Sanep). A rede de alta tensão, necessária para realizar a obra emergencial, não ficou pronta a tempo. A Sanga da Barbuda não estará mais na rota, como programado. A autarquia optou pelo córrego Passo do Cunha, por onde a água que chegará por gravidade à Barragem deverá trazer menos esgoto ao reservatório.
No primeiro levante - do arroio Pelotas o açude localizado na Granja Retiro II - duas bombas estarão instaladas. Uma com capacidade para puxar até 900 litros por segundo; a outra de 450 litros. No segundo levante - de um outro açude dentro da Granja ao córrego - uma terceira bomba puxará 900 litros por segundo e um quarto equipamento só será ligado depois de observados os resultados da transposição, explica o diretor-presidente do Sanep, engenheiro Gilberto Cunha. A previsão é de que a obra se mantenha ao menos até o final de outubro, prazo em que vigorará o termo de cedência assinado pelo deputado federal Érico Ribeiro (PP), que emprestou o maquinário sem custos ao município. No total, cerca de R$ 20 mil devem ser gastos com a transposição; a maioria dos recursos investidos em energia elétrica, devido à rede de alta tensão.
A migração indesejada de espécies estranhas à bacia do arroio Santa Bárbara coloca os integrantes do Conselho Municipal de Proteção Ambiental (Compam) em alerta. Animais predatórios do sistema natural poderiam ser carregados com a transposição e por isso um estudo do impacto ambiental precisaria ter sido providenciado, defendem. O mexilhão dourado, trazido à América do Sul preso a cascos de embarcações, gera problemas ambientais e patrimoniais: causa danos à vegetação e pode inclusive impedir a passagem de água, ao formar colônias e se prender em dutos.
Uma visita ao ponto de captação no arroio Pelotas - na região acima da Ponte do Retiro - irá analisar se há ocorrência do mexilhão no local. Se o crustáceo for encontrado, uma reunião de urgência será convocada para verificar as providências, admite Gilberto Cunha. O fato de o Sanep não ter encaminhado a documentação para licença ambiental à obra também foi alvo de críticas no encontro do Compam. Os profissionais da área ambiental temem ainda pelas conseqüências à bacia do arroio Pelotas, após a retirada incessante de água por no mínimo dois meses e meio. A autarquia deveria concentrar atenção em também resolver a origem do problema, que passa por questões como a preservação da vegetação das nascentes e os cuidados para evitar o assoreamento, enfatiza o advogado ambientalista do Centro de Estudos Ambientais (CEA), Antônio Carlos Soler. (Diário Popular, 17/08)