Ambientalistas e técnicos divergem sobre térmica no Pantanal
2005-08-17
A audiência pública, que apresentou o projeto da usina termoelétrica de Corumbá juntamente com o estudo e o relatório de impacto ambiental do empreendimento, trouxe à tona divergências quanto aos danos que podem ser causados ao meio ambiente e à saúde humana com a instalação e operação da térmica.
A coordenadora do curso de Engenharia Ambiental, da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) em Campo Grande, pesquisadora Sônia Corina Hess, destacou que a localização do complexo numa área de concentração urbana – entre Corumbá e Ladário – é inadequada. Ela afirmou que o próprio relatório apresentado pela empresa que construirá e administrará a usina diz que a poluição será “alta e afetará uma área grande”. A preocupação da pesquisadora é que o vento na região não é suficiente para dispersar os gases poluentes, e, segundo ela, a poluição ficará concentrada trazendo problemas para saúde e ambiente da área próxima.
A pesquisadora não recomenda a instalação no local conhecido como Núcleo Industrial argumentando que o próprio documento da empresa considera a área inadequada para esse tipo de empreendimento. Ela sugere a realização de um estudo que aponte o local que reúne condições adequadas para dispersão da poluição pelo vento. Sônia ainda ressaltou que não se sabe o que pode acontecer no futuro com a saúde da população e um local que apresenta riscos, afasta as pessoas, numa referência a um possível prejuízo para o setor turístico. - Se a população tivesse conhecimento entenderia que não somos contra, mas que temos medo do que pode acontecer com a vida das pessoas -, observou. O geofísico espacial do Campus do Pantanal da UFMS, Moacir Lacerda, reforçou a análise quanto à localização avaliando que as conseqüências podem ser desastrosas para a população, com efeitos sendo sentidos a partir da entrada em operação. Lacerda ainda salientou que a área de influência direta dos efeitos fica num raio de 800 metros da Termopantanal, afetando cerca de mil residências e 4 mil pessoas diretamente.
Técnicos
A termoelétrica corumbaense, segundo o engenheiro de segurança no trabalho e meio ambiente, Emmanuel Queiroz, vem sendo desenvolvida observando a mais moderna tecnologia de proteção do ar, medidas que são adotadas internacionalmente. Para ele, sempre vão existir impactos positivos e negativos. Mas, as térmicas são o veículo mais apropriado para geração de energia e permitem o gerenciamento e minimização dos impactos.
A consultora Paulina Porto Cavalcanti, que trabalhou na elaboração do estudo e relatório de impacto ambiental, afirmou que o projeto da usina corumbaense apresenta impacto ambiental muito pequeno. Ela esclareceu que o relatório trabalhou na avaliação dos efeitos dos poluentes na qualidade do ar usando uma técnica de modelagem internacional, tendo como base dados meteorológicos locais e níveis de emissão da chaminé da turbina, informados pelo fabricante. - Nenhum deles atingiu 1% do padrão de qualidade do ar, para efeitos de saúde -, destacou. As amostras foram coletadas em dez pontos de Corumbá e Ladário.
Impactos positivos e negativos
O estudo apontou pelo menos dez impactos positivos e negativos da implantação da termoelétrica: alteração dos níveis de ruído; geração de resíduos sólidos e líquidos; alteração do fluxo de veículos; impacto na qualidade do ar; alteração da paisagem; interferência no patrimônio arqueológico; aumento de oferta de trabalho; movimentação da economia local; aumento na arrecadação do município e contribuição para o sistema elétrico.
Ao mesmo tempo serão implantados pelo menos dez programas ambientais pela MPX e CRE, que tratarão de orientações técnicas para o empreendimento; do monitoramento das emissões atmosféricas; de estudos e preservação do patrimônio arqueológico; monitoramento da qualidade do ar; gerenciamento de efluentes e resíduos sólidos; controle de emissão do nível de ruído; sistema de gestão ambiental e programas de saúde; comunicação social e de compensação ambiental.
Câmara de Corumbá se posiciona a favor de termelétrica
O presidente da Câmara Municipal de Corumbá, Marcos de Souza Martins (PT), que acompanhou a audiência pública para discussão do estudo e relatório de impacto ambiental do projeto de implantação da usina termoelétrica na cidade, disse que avaliou a reunião com visões técnica e política.
Técnica porque aconteceu o cumprimento de uma determinação legal do Ibama. Política em função de a Câmara (de Vereadores) se posicionou em defesa da termoelétrica. O parlamentar ressaltou a necessidade de se defender e proteger o meio ambiente criando alternativas para o homem pantaneiro. - Apenas queremos qualidade de vida melhor; qualidade de energia; deixar de ser ponta de linha. Somos área de fronteira, queremos independência com a geração de energia limpa - , declarou Martins. Ele ainda destacou o empenho do senador Delcídio do Amaral (PT) em todo o processo de implantação da térmica corumbaense. (Campo Grande News, 16/08)