Fogo volta a destruir floresta de Carajás
2005-08-17
Parte da Floresta Nacional de Carajás (Flona) voltou a arder na região da Serra dos Carajás, desta vez num dos pólos da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), onde está localizada uma das minas de ferro exploradas pela empresa. O novo incêndio consumiu pelo menos mais 10 mil metros quadrados de mata, um prejuízo calculado em R$ 10 milhões, somente em termos de madeira, afora o valor inestimável por conta da biodiversidade perdida.
Por volta das 22 horas de sábado, chegou a notícia do novo foco de incêndio, que só foi controlado na manhã do domingo. A equipe dos bombeiros continua trabalhando na área para fazer o trabalho de rescaldo.
O major dos bombeiros, Mário Moraes disse que o incêndio na floresta, localizada no município de Parauapebas, já atingiu uma área de 100 hectares, afora os outros 10 mil metros quadrados de área consumidos no sábado, 13/08. Número este rebatido na avaliação feita por Viviane Lassman, chefe da Flona, e que calcula que 200 hectares de floresta foram destruídos pelo fogo. Os militares estão fazendo o trabalho de rescaldo. Eles continuarão no local por mais dez ou 20 dias, Criada em 1998, a Flona Carajás tem 411,9 mil hectares e foi concebida para atividades de pesquisa e lavra mineral que a Companhia Vale do Rio Doce já realizava na área.
— O local onde ocorreu esse último foco de incêndio é de dificílimo acesso por conta do relevo e da mata, muito fechada. O helicóptero da Vale tem sido fundamental, porque, além de ter autonomia para transportar 91 bolsas de água por dia, ainda fez diminuir o tempo de chegada dos bombeiros, que precisam caminhar até uma hora desde o heliponto, na floresta, até o local do incêndio. Esse mesmo helicóptero também é o responsável pelo transporte da alimentação dos bombeiros, entregue no próprio local de combate ao fogo -, revelou o oficial.
A operação feita pelo helicóptero que consiste em jogar bolsas de água no fogo, é denominada de bambi backet, e a vantagem é que a bolsa de água é içada através de um cabo de aço de 30 metros de cumprimento, o que permite ao piloto da aeronave lançar a água exatamente sobre os focos de incêndio, sem desperdício de tempo e de água. Essa aeronave tem autonomia para operar das 6 às 18 horas.
De acordo ainda com o major Mário Moraes, os três carros-pipa da Vale têm capacidade de 20 mil litros de água cada e servem para abastecer a viatura do Corpo de Bombeiros, que tem capacidade para 10 mil litros.
— Esses carros-pipa, que recolhem a água de um piscinão inflável da Vale, funcionam então como uma recarga para a viatura, dotada de mangueira de 15 metros de cumprimento, o que tem permitido até agora o êxito na operação.
Destruição atingiu 20% da floresta
O professor e preservacionista Camillo Vianna disse que pelo menos 20% de toda a floresta primitiva do Pará já foram devastados, seja por queimadas criminosas, seja por projetos aprovados pelos órgãos ambientalistas.
— Mas a verdade é que o que eles (empresários) querem, o que lhes interessa não é a floresta, que está em cima do solo, mas exatamente o que está por debaixo do solo e que ninguém sabe ainda seu real valor -, acusa.
Camilo Viana disse que o Estado perdeu completamente o controle sobre as queimadas e devastação das florestas, e que esse descalabro não é de hoje.
— Vimos há pouco as declarações do ex-presidente José Sarney, de que os americanos iriam construir bomba atômica bem aqui na Serra do Cachimbo, e ninguém sabia de nada. Assim acontece até hoje, lamentavelmente. E o pior é que a contrapartida para o povo desse Estado é sempre muito pobre, isso quando acontece a tal de contrapartida. O que aconteceu agora na Serra dos Carajás é um prejuízo de valor inestimável, já que a biodiversidade ali existente pouca gente conhecia -, conta.
(O Liberal, 16/08)