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2005-08-17
O desmatamento na Amazônia tem apresentado altos índices e preocupado autoridades governamentais e pesquisadores. Entre agosto de 2003 e agosto de 2004, foi registrada a segunda maior taxa desde 1995, com 26.130 mil km2 de área desmatada, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Em conseqüência disso, pesquisadores e outros segmentos da sociedade se vêem diante de outros problemas como, por exemplo, o desaparecimento de espécies biológicas e degradação dos solos, dificultando suas recuperações.

O projeto de rede Clareiras na Amazônia: avaliação, prevenção e recuperação dos danos causados em áreas de prospecção e transporte de gás natural e petróleo na Amazônia Brasileira, coordenado pelo pesquisador do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) Luiz Antonio de Oliveira na base petrolífera de Urucu, no município de Coari (a 600 km de Manaus), pode servir de modelo para a recuperação dessas áreas devastadas.

Segundo Oliveira, a exploração da área de Urucu pela Petrobras causa baixíssimos danos ambientais, uma vez que apenas cerca de 300 hectares foram desmatados até o momento para a extração de todo o petróleo e gás natural usados em toda a Amazônia.

O projeto de rede, que reúne nove instituições de ensino superior e de pesquisas da Amazônia, tem como objetivo principal desenvolver tecnologias para recuperar as áreas abertas na floresta (clareiras e jazidas), sendo que, no momento, apenas 28 hectares se encontram desmatados na bacia de Urucu. O restante já está em fase de recuperação através da revegetação com espécies que ocorrem no local.

— O projeto, que tem total apoio da Petrobras, visa atender às exigências da empresa, que mantém, em Urucu, padrões de qualidade ambiental que a colocam na classificação da ISO 14001, sendo uma referência internacional de exploração do petróleo com alta qualidade ambiental -, explicou Oliveira.

O especialista do Inpa acrescentou ainda que, além de proporcionar à Petrobras esse padrão de qualidade, as tecnologias de recuperação das clareiras e jazidas poderão servir de parâmetro para a recuperação das áreas degradadas pelas atividades agropecuárias de outras regiões da Amazônia, a exemplo das fronteiras agrícolas nos Estados do Pará, Acre e Rondônia.

— Contribuindo substancialmente para o desenvolvimento sustentável da região -, assegurou o pesquisador Luiz Antônio.

Abertura de clareira gera erosão superficial
De acordo com o pesquisador, o processo de abertura das clareiras na floresta retira a vegetação e a parte superficial do solo, expondo-o às chuvas e insolação, com riscos de erosão superficial. Como a retirada da vegetação é feita com tratores, há uma compactação do solo, diminuindo a infiltração da água e das raízes das plantas. Para evitar os danos dessa situação, a Petrobras mantém um viveiro com mudas de plantas, procurando recuperar e recobrir essas clareiras o mais rapidamente possível.

— Antes é feita uma avaliação dos impactos ambientais, por meio da caracterização florística, da verificação da estrutura da floresta primária e dos reflorestamentos das clareiras, e, com todas essas informações, é possível determinar a idade e o estágio sucessional das clareiras, através do sensoriamento remoto. Também é feita caracterização e a estrutura das populações de animais -, explicou.

A partir desse trabalho, já foi possível identificar novos insetos, pássaros, serpentes e plantas, que ainda não tinham sido catalogados porque o local (mata virgem) é controlado pela Petrobras, que proíbe a caça e a pesca.

Processo regenerativo
Oliveira contou que o processo de regenaração pode ser natural ou artificial, usando-se também a adubação do solo com material orgânico ou mineral, bem como a utilização de carvão para a retenção de água e nutrientes. Além dos estudos sobre física e química dos solos, há ainda os relacionados com microbiologia etc.

Para a revegetação das clareiras são utilizadas espécies que se adaptam com mais facilidade à região, como, por exemplo, a Cecropia spp, mais conhecida como embaúba, bem como outras espécies arbóreas como o ingá, andiroba, diferentes espécies de palmeiras, entre outras.

— A idéia é fazer a recuperação das áreas num período de cinco a dez anos com a tecnologia desenvolvida, apesar de o solo da região ser pobre em nutrientes. Existem clareiras que já foram totalmente recuperadas -, afirmou o pesquisador.

Ele explicou que, nas terras firmes da Amazônia, a produção e manutenção da biomassa é dependente de um ciclo fechado de extração e reposição de nutrientes e a biomassa acima no nível do solo funciona como um reservatório de nutrientes.

Segundo Oliveira, sem o replantio, a reconversão total de áreas degradadas novamente em floresta pode durar mais de 50 anos (em alguns casos, até 500 anos), ao invés dos 5 a 10 anos com o uso de tecnologias com base científica. Esse projeto rede tem equipes multidisciplinares, que estudam a flora, fauna, solos e clima da Base Petrolífera de Urucu, em Coari.

O trabalho teve início em 2003, com investimentos de aproximadamente R$ 1,5 milhão financiados pela Finep (Finaciadora de Estudos e Projetos), tendo ainda, uma contrapartida financeira e logística por parte da Petrobras.

Plantas em viveiros
As plantas utilizadas na recuperação das clareiras são cultivadas em viveiros localizados na própria base petrolífera de Urucu. São aproximadamente 200 mil mudas de espécies arbóreas, madeireiras e frutíferas nativas da região, totalizando 56 espécies diferentes, nos quase 200 hectares desmatados.

Luiz Antônio Oliveira mencionou que hoje são cerca de 18 hectares a serem cobertos com vegetação. — É um processo contínuo, com a abertura de novas clareiras e reflorestamento -, comentou o especialista .

Segundo o pesquisador, ainda estão sendo ampliadas áreas de exploração em mais 100 km, o que vai exigir um esforço maior para diminuir os impactos ambientais, superar os problemas de logística - e Urucu fica distante 600 km de Manaus, além do aumento do investimento.

O pesquisador explicou que os recursos foram ampliados em mais R$ 2 milhões e o projeto renovado por mais um ano. — A única resposta para isso é que as tecnologias utilizadas podem ser aplicadas em outras áreas devastadas -, destacou. (Jornal do Commércio, 16/08)

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