Rio Grande do Sul não tem controle da extração de águas subterrâneas
2005-08-17
Por Lara Ely, especial para o Ambiente JÁ
O Rio Grande do Sul não consegue fiscalizar a abertura de novos poços artesianos e perdeu o controle sobre a extração de suas águas subterrâneas. A declaração é do diretor do Departamento de Recursos Hídricos (DRH) da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Rogério Dewes. — O problema é que para abrir um poço não é necessário nada mais do que uma máquina que demora 24 horas para fazer a extração-, lamenta.
O Estado tem licenciado atualmente 1400 poços artesianos. Destes, no máximo 20% são no Aqüífero Guarani. O problema maior é na Fronteira Oeste, onde o esgoto e as fossas sanitárias têm contato direto com as águas. Uma vez que um fonte subterrânea é contaminada, nunca mais volta ao normal. — Não há no Rio Grande do Sul tecnologia para isso-, afirma.
A questão é mais grave em algumas localidades da Fronteira Oeste, onde o aqüífero é praticamente seco e os colonos utilizam poços para enterrar excremento de porco. — Durante a estiagem do verão passado, muitos poços não recuperaram sua quantidade de água natural através da chuva, então viraram gaveta de bosta de porco -, ironiza Dewes.
As principais áreas de risco para a contaminação são chamadas áreas de carga e descarga. As áreas de carga correspondem aos locais onde o aqüífero é superficial e recebe infiltração natural pelas águas da chuva, e em locais onde o basalto tem fragmentos que permitem a entrada de água. Nestes pontos o aqüífero se reabastece. Já nas áreas de descarga, como em Santana do Livramento e Riveira, ele se encontra com os rios, como o Rio Uruguai, e muitas vezes estes rios tem suas águas poluídas.
A contaminação dessas reservas de água é o maior problema, mas existem outros como a exploração comercial excessiva e o risco de desabastecimento. Nas proximidades de Quaraí, por exemplo, onde a água está na flor da terra, os sais minerais das águas termais podem contaminar o Aqüífero Guarani.
O problema, no entanto, é menor em regiões onde o lençol freático é mais profundo, como em Cambará do Sul, onde chega a 1200 metros de profundidade. — Nesses casos a contaminação quase não existe-, garante Dewes. Em Erechim, Vacaria e Caxias do Sul, o aqüífero também está isento de contaminação pela sua profundidade (500 a 700m).
Água para beber
Do toda a água da parte gaúcha do Aqüífero Guarani menos da metade é considerada própria para consumo. Santana do Livramento é um dos locais privilegiados. Lá os cerca de 90 mil habitantes bebem direto da fonte.
O diretor do DRH, no entanto, faz uma ressalva: — O aqüífero não é tudo que dizem dele. A mídia faz ele parecer mais importante do que é. Ele não é a maior reserva natural de água doce do mundo-, conclui.
O Aquífero Guarani é a principal reserva subterrânea de água doce da América do Sul e um dos maiores sistemas aquïferos do mundo, ocupando uma área total de 1,2 milhões de km² na Bacia do Paraná e parte da Bacia do Chaco-Paraná. Estende-se pelo Brasil (840.000 Km²), Paraguai (58.500 Km²), Uruguai (58.500 Km²) e Argentina, (255.000 Km²), área equivalente aos territórios de Inglaterra, França e Espanha juntas. Sua maior ocorrência se dá em território brasileiro (2/3 da área total) abrangendo os Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
O nome é uma denominação do geólogo uruguaio Danilo Anton em memória do povo indígena da região. O aqüífero Guarani tem uma área de recarga de 150.000 Km² e é constituído pelos sedimentos arenosos da Formação Pirambóia na Base (Formação Buena Vista na Argentina e Uruguai) e arenitos Botucatu no topo (Missiones no Paraguai,Tacuarembó no Uruguai e na Argentina).