Brasil é pioneiro no mercado de créditos de carbono a partir da suinocultura
2005-08-15
O mercado de créditos de carbono, mecanismo previsto no Protocolo de Kyoto para a redução da poluição no Planeta, está se desenvolvendo de forma surpreendente no Brasil. Ao invés do seqüestro de dióxido de carbono da atmosfera a partir de plantação de florestas, o mercado em que o país é pioneiro passa pelo descarte adequado dos resíduos da suinocultura.
Segundo o pesquisador da Unesp Jorge de Lucas Júnior, que teve suas pesquisas na área apoiadas pelo CNPq, agência vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, a metodologia que está sendo usada no Brasil foi aprovada pela ONU com conceito A, o que permite a liberação de recursos pelo Banco Mundial. O país está no anexo 2 do Protocolo, o de fornecedores de carbono.
Pelo processo, que tem financiamento de empresa canadense, os restos da suinocultura, muitas vezes descartados in natura no meio ambiente, passam por um biodigestor que queima o gás metano resultante. A energia resultante pode gerar eletricidade para o produtor conservar alimentos, uso em residências, indústrias e outros usos. Sem contar a redução no odor, número de moscas e na produção do adubo resultante do processo.Os produtores de suínos recebem o biodigestor gratuitamente e têm a obrigação de mantê-lo funcionando por 10 anos. Depois de pago com os créditos de carbono, o aparelho pode gerar R$ 5 por matriz/ano. Um produtor com mil suínos gera 2.500 kg de dejetos por dia. Para referência, uma única vaca gera resíduos suficientes para sete pessoas tomarem banhos.
O mercado de créditos de carbono é um mecanismo para contribuir na redução do lançamento na atmosfera de gases poluentes como dióxido de carbono, metano, óxido de nitrogênio e clorofluorcarbonos. Os países poluidores, que emitem muitos gases para manter suas economias funcionando, compram créditos de carbono de outros países em troca de não diminuírem a poluição que geram. O preço da tonelada de carbono varia entre 3 e 5 dólares no mercado internacional.
Está prevista a criação de uma Bolsa de Carbono em um mercado que pode atingir 3,5 bilhões de dólares por ano na América Latina, segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas. O Brasil, com sua ainda grande cobertura florestal e terras relativamente baratas, seria o maior beneficiário na região. O mecanismo também pode ser útil para a geração de créditos a partir do descarte adequado do lixo e do esgoto urbano, dois graves problemas no país. (Eco Agência, 12/08)