Índios panará dão exemplo de respeito à floresta amazônica
2005-08-12
Enfim, uma boa notícia em meio à devastação, queimadas e extração ilegal de madeira da floresta amazônica: os índios panará, que vivem no sudoeste do Pará, na fronteira com Mato Grosso, estão transformando sementes de mogno em alternativa para geração de renda para sua comunidade. Ao invés de derrubar a floresta, eles a mantém de pé e ainda ganham dinheiro para garantir sua sobrevivência. As sementes dos panará servem para reflorestamento e recuperação de áreas degradadas.
O projeto de preservação da floresta é uma parceria dos índios com o Instituto Sócio-Ambiental (ISA), uma entidade que há anos vem lutando pelo aproveitamento dos recursos naturais da Amazônia de maneira sustentada e sem agressão ao meio ambiente. De acordo com a entidade, o objetivo do projeto seria aliar o conhecimento dos recursos naturais da área indígena - cujo território de 500 mil hectares é praticamente todo coberto por densas florestas - com a sustentabilidade das atividades econômicas dos panará, que somam hoje cerca de 250 índios.
Os panará protagonizaram uma das mais trágicas histórias de contato com a sociedade, quando foram expulsos pelas obras de construção da rodovia Cuiabá-Santarém, a BR-163, na década de 1970.
— A mais recente conquista do projeto de manejo florestal, iniciado em 2002, foi a colheita e o beneficiamento de 12 quilos de sementes de mogno (Swietenia macrofilla), uma das mais nobres e cobiçadas árvores da Amazônia. O próximo passo será comercializar as sementes, com qualidade certificada, no mercado de empresas de reflorestamento e com governos que incentivam a recuperação de áreas degradadas -, diz o ISA.
A colheita das sementes de mogno se realiza a cada dois anos e a de maio passado - de 12 quilos - foi recorde. Em 2003, os panará colheram 4 quilos. Para triplicar o número de sementes, os panará coletaram mais de 700 frutos de mogno e identificaram, numeraram, mensuraram e localizaram em mapas 59 árvores da espécie. As sementes de mogno beneficiadas (prontas para o plantio) estão cotadas a R$ 250,00 o quilo.
— A qualidade genética é o grande trunfo dessas sementes -, afirma o biólogo Israel Gomes Vieira, do Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (Ipef), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq).
— Enquanto as sementes produzidas na região Sudeste, por exemplo, são de fragmentos florestais de baixa variabilidade genética, quase sempre das mesmas árvores, as sementes de reservas indígenas têm um fluxo genético muito maior, o que dá uma garantia para a perpetuação da espécie -, diz Vieira.
O pesquisador confirma que as sementes de essências nativas têm encontrado uma demanda muito grande no mercado nacional, em especial por parte de empresas hidrelétricas e de mineração obrigadas a investir em reflorestamento. Caso os panará consigam vender os 12 quilos, os R$ 3 mil arrecadados deverão ser reinvestidos no projeto, que visa agora mapear árvores matrizes (as chamadas porta-sementes) de outras espécies com potencial de exploração e comercialização. (O Liberal, 11/08)