Queda de helicóptero em SC poderia ter sido evitada
2005-08-12
O acidente com o helicóptero Jet Ranger que matou quatro pessoas há dez dias em Anita Garibaldi, no Planalto Serrano catarinense, poderia ter sido evitado se o fio elétrico no qual a aeronave se chocou tivesse a baliza de segurança que indica a existência de redes de energia. A inexistência desse material, que serve de instrumento de segurança de vôo, impediu que o piloto Everton Mocelin visse o cabo elétrico. A aeronave levava biólogos e técnico do Ibama para sobrevoar a região da Usina de Barra Grande e auxiliar na coleta de espécie ameaçada de extinção.
A fiação media cerca de um centímetro de diâmetro e atravessava um vale, numa distância de quase um quilômetro de comprimento, ligando dois morros.
A baliza serve de referência para vôos diurnos e noturnos. O material é uma bola da cor laranja que é colocada na extensão do fio para facilitar a indicação da rede.
O agricultor Aderlei de Moraes, morador da propriedade onde ocorreu a tragédia, disse que nunca viu as balizas de sinalização colocadas na fiação. Um dia após a queda do helicóptero, funcionários da Celesc instalaram duas balizas na linha de transmissão que foi atingida pelo Jet Ranger.
A medida, segundo o engenheiro elétrico e membro do conselho que regula as regras da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), Rui Otte, deveria ter sido feita no momento na implantação daquela rede.
– Existe uma portaria que exige essas sinalizações. Agora colocaram as balizas como se estivessem fazendo um favor. Essas redes devem ter sinalização diurna e noturna, que possibilitem que pilotos de aeronaves pequenas vejam que há fios numa distância de seis quilômetros, à noite – ressaltou Otte, que se demonstrou indignado com o acidente.
Otte destacou que Santa Catarina é um Estado que apresenta muitas deficiências no balizamento de torres de transmissão de energia elétrica, cabos, chaminés e prédios. Ele acrescentou que os municípios, que são os responsáveis pela fiscalização desses equipamentos, estão omissos às irregularidades.
O chefe de divisão de distribuição da agência da Celesc de Lages, que é responsável pela eletrificação no Planalto Serrano, João Nazareno Vieira Lima, disse que o sistema segue os padrões sugeridos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Ele argumentou que a norma não exige a sinalização em rede rurais, como é o caso da rede de distribuição existente em Anita Garibaldi, onde o helicóptero caiu.
Lima disse que a empresa resolveu colocar os sinalizadores após o acidente como medida de prevenção, mesmo sendo uma região que não é área de vôo e que o helicóptero estava fora da rota no momento em que houve o acidente.
– Nós não temos como padrão técnico usar as balizas nesse tipo de rede elétrica. Como ocorreu essa fatalidade, resolvemos colocar a sinalização. As balizas são usadas em grandes redes de distribuição e onde há maior chances de haver tráfego aéreo – disse Lima.
Conforme o engenheiro Rui Otte, no entanto, somente o Comando Aéreo Regional (Comar) pode dispensar o uso de sinalizadores nos obstáculos. Conforme a assessoria do Comar, essa área de Anita Garibaldi não foi vistoriada pelo órgão. (Diário Catarinense, 11/08)