Irã rompe lacres, aciona usina e enfrenta crítica dos EUA
2005-08-11
O governo do Irã rompeu nesta quarta-feira (10/8) todos os lacres na central nuclear de Isfahan, que está agora a pleno vapor, confirmou o vice-presidente do Organismo iraniano de Energia Atômica, Mohammed Saidi. –Todo o processo foi realizado sob a supervisão dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), acrescentou.
Os Estados Unidos condenaram a retirada dos lacres e disseram que o Irã despreza a comunidade internacional. – A retirada dos lacres da usina de Isfahan é uma nova mostra do desprezo do Irã frente às preocupações internacionais, disse o porta-voz da delegação dos EUA em Viena, Matt Boland.
Sem os lacres, Teerã deve retomar a plena atividade na usina, condicionada para transformar pó de urânio concentrado em gás hexafluoreto UF6, processo prévio ao enriquecimento deste elemento radiativo.
O Irã retomou parte de sua controversa atividade nuclear na usina de Isfahan na segunda-feira (8/9), apesar das advertências da União Européia (UE) e das ameaças dos Estados Unidos, que acusa o país de ocultar um programa secreto para a aquisição de armamento nuclear.
Para enfrentar esse novo desafio, a tríade negociadora da UE --Alemanha, França e Reino Unido-- convocou uma reunião urgente do Conselho de Governadores da AIEA em Viena, mas o encontro, que deveria ocorrer nesta quarta-feira, foi cancelado e remarcado para amanhã.
A Casa Branca pressiona há meses para que a polêmica saia da AIEA e chegue ao Conselho de Segurança da ONU --na espera que o órgão tente impor sanções ao Irã.
A usina, que está localizada a 15 quilômetros da histórica cidade de Isfahan, converte urânio bruto em gás. O próximo estágio do processo --que diz o governo, não será reativado por enquanto-- é levar o gás para centrífugas, onde é enriquecido.
Se o urânio é enriquecido em um nível baixo, ele é usado como combustível nuclear. Níveis mais altos de enriquecimento de urânio podem permitir que a substância seja usada para a fabricação de uma bomba atômica.
Desde 2003, representantes da Alemanha, França e Reino Unido negociam com o Irã o fim do programa nuclear no país, em troca de benefícios comerciais e tecnologia.
No final de julho passado, o então presidente do Irã Mohammad Khatami afirmou que o país iria reiniciar o tratamento de urânio, já que o governo e os negociadores internacionais não chegaram a nenhum acordo. Seu sucessor, Mahmoud Ahmadinejad, que tomou posse em 3 de agosto último segue a mesma linha do antigo presidente, no que tange à questão nuclear.
Os Estados Unidos acusam o Irã de tentar desenvolver armas nucleares, mas autoridades do país insistem que o programa nuclear só tem por objetivo produzir eletricidade, e que os iranianos têm o direito desenvolver o ciclo total para fabricação de combustível --do processamento de urânio bruto para transformá-lo em combustível para reator. (FSP, 10/8)