Ex-presidente José Sarney admitiu planos do Brasil de construir a bomba atômica
2005-08-09
O ex-presidente José Sarney revelou no domingo (8/8) que a ditadura militar responsável pelo governo do Brasil por duas décadas até 1985 teve planos de construir uma bomba atômica, mas que a idéia foi descartada após a reinstalação da democracia. Durante entrevista à Rede Globo, o ex-mandátario disse que, naquele momento, havia negado a existência desses planos porque não queria pôr em risco negociações para um acordo de cooperação nuclear com a Argentina.
– Os argentinos também estavam envolvidos (em uma corrida atômica) e também não chegaram, da mesma forma que eu, disse o ex-mandatário, na entrevista. Durante a gestão de Sarney, Brasil e Argentina firmaram um acordo para o uso pacífico da energia nuclear que é visto como exemplo de cooperação entre nações em vias de desenvolvimento. Como parte do acordo, funcionários dos dois países têm livre acesso às instalações nucleares uns dos outros.
Sarney não deu detalhes de quão longe foi o plano dos militares. Mas disse que, depois do acordo, funcionários brasileiros descobriram que a Argentina estava ao menos 10 anos adiante do Brasil. Após a assinatura do acordo, ambos os países se incorporaram ao tratado de não-proliferação nuclear das Nações Unidas que o Brasil firmou em 1997.
A ditadura brasileira esteve sempre sob suspeita de ter planos para desenvolver uma bomba atômica, mas esta é a primeira vez que se confirma. Sarney, que encabeçou o primeiro governo civil após o fim da ditadura, disse que recebeu a informação de que os militares haviam construído um poço no Estado do Pará, ao norte do país, onde eventualmente realizariam os primeiros experimentos atômicos. Sarney assumiu a presidência em 1985, após a morte de Tancredo Neves, que havia sido eleito presidente pelo Congresso a partir de uma fórmula estabelecida pelos militares. Sarney era vice-presidente de Neves e seu governo estendeu-se de 1985 a 1989. O ex-mandatário não precisou quando foi informado sobre os planos militares, mas supõe-se que isso ocorreu pouco depois de haver assumido o cargo. –Reagi com surpresa, disse Sarney. E acrescentou que deu instruções para que o poço fosse selado imediatamente.
(Fonte: Clarín, 8/8)