Seca provoca aumento de 35% nas emissões de poluentes em Portugal
2005-08-09
A Quercus - Associação Nacional de Conservação da Natureza, ONG ambientalista de Portugal, analisou dados disponibilizados na semana passada pela Rede Eléctrica Nacional. E chegou à conclusão de que a seca que fustiga o país conduziu já a um aumento de 35%das emissões de gases com efeito de estufa. Em comunicado emitido ontem, a associação explica que efetuou um conjunto de cálculos envolvendo as emissões de gases com efeito de estufa das diferentes centrais termoeléctricas. Comparou o que se passou entre janeiro e julho de 2005 com o período homólogo de 2004 e concluiu que, devido à quebra em 55% da produção hídrica, as emissões de dióxido de carbono equivalente aumentaram 35%.
–Portugal é um país que assenta grande parte da sua produção eléctrica na componente hídrica, pelo que a seca está obrigando a uma maior produção recorrendo às centrais térmicas a carvão, gás natural e fuelóleo. Estas centrais são responsáveis pela emissão de grandes quantidades de gases que alteram o clima.
Como se não bastasse a seca, houve, entre os dois períodos em análise, uma elevação do consumo de eletricidade da ordem de 6%, o que obriga a um aumento da produção - trata-se de um valor exageradíssimo, segundoFrancisco Ferreira, vogal da direção nacional da associação.
–Há um conjunto de países na Europa que aumentam mais o Produto Interno Bruto do que o consumo elétrico; em Portugal é o contrário, o que é insustentável também do ponto de vista econômico, diz o dirigente. O consumo de electricidade corresponde a cerca de 20% do consumo de energia final em Portugal. A associação tem questionado diversas entidades sobre o que leva a esta alta no consumo: –Todos os anos temos tido aumentos da ordem dos 6%, diz Francisco Ferreira. E acrescenta: –Ninguém conhece as causas.
Além disto, a Quercus critica o fato de até agora não ter havido uma resposta da parte dos sucessivos governos a este problema, seja através de um programa de conservação de energia seja ao nível de uma maior aposta nas energias renováveis (eólica, solar fotovoltaica, solar térmica, biomassa, hídrica, geotérmica, marés), por exemplo.
De acordo com os dados disponibilizados para o período de janeiro a julho de 2005, a produção de eletricidade por fontes renováveis representou apenas 13% do consumo total - 10% de origem hídrica e 3% de origem eólica -, quando uma diretiva européia determina que, em 2010, uma percentagem de 39% da eletricidade seja produzida a partir de fontes renováveis.
Outro motivo de preocupação está nos incêndios. Em 2003 estes foram responsáveis por um aumento de quase 6%das emissões de gases com efeito de estufa.
Em janeiro deste ano, as barragens estavam cheias e produziu-se mais eletricidade a partir delas e menos a partir das centrais térmicas. Resultado: estavam criadas condições para Portugal ver reduzir as emissões totais de gases com efeito de estufa. Mas os fogos anularam as vantagens hidrológicas desse ano. Ou seja, as florestas, em vez de purificarem o ar, acabaram, via incêndios, por poluí-lo aumentando em sete milhões de toneladas as emissões nacionais de gases. Um cenário que, teme a Quercus, pode repetir-se este ano, apesar de a área ardida representar, até agora, sensivelmente um quarto da de 2003. (Ecosfera, 8/8)