Campos de golfe da Espanha desafiam seca
2005-08-09
Jogar golfe enquanto a Espanha vive uma das piores secas dos últimos 60 anos é um luxo escandaloso – exceto para quem se conforma com uma grama menos verde. Enquanto a água diminui na maior parte do país, cerca de 300 campos são insolentes oásis de verde, principalmente na região de Madri. Adaptando-se a esta preocupação, um apaixonado pelo esporte acaba de inaugurar um terreno de jogo ecológico, com uma superfície regada de dez a vinte vezes menos que de grama comum.
Comparado ao verde campo de Villanueva de la Cañada, localizado em uma paisagem semi-desértica a cerca de 30 quilômetros da capital, o de Quijorna pode parecer pálido, com grama amarelada e solo rachado pelo calor. – Temos uma filosofia de uso responsável da água-, explica Paco López, presidente do clube de golfe que consome cerca de 100 metros cúbicos de água por ano, o que se consome em uma casa. Segundo a Greenpeace, um campo normal consome 700 mil metros cúbicos de água, o mesmo volume de 15 mil pessoas. – Nos 28 campos de golfe da capital somente dois são regados com água reciclada respeitando a legislação -, afirma Julio Barea. A Confederação Hidrográfica do Tejo (CHT) adotou sanções contra dez deles. Os proprietários dos clubes haviam cavado poços subterrâneos sem autorização ou recorreram à água tratada. Em Barcelona, a Agência Catalana de Água (ACA) fechou o clube de El Prat de Terrassa, que usava água potável e água residual não regulamentar.
Os ecologistas denunciam o que consideram um desperdício de água, sobretudo nas regiões mais secas da Espanha, como Anadaluzia, Extremadura e Múrcia, onde há mais de uma dezena de projetos de novos campos. Eles acharam o campo de Quijorna, que ainda não está concluído, um projeto muito interessante. Nove campos foram abertos no ano passado, e outros nove se encontram em construção. Mas, sobretudo, um sistema mínimo de rega deve ser iniciado nos próximos cinco anos. Serão regadas as saídas, os greens e seus arredores, três espaços onde se demonstra que se realizam 80% do jogo. Os fairways, entre as saídas e os verdes, serão deixados sem rega, um gramado que mudará de cores em função do ano e das chuvas naturais. No final, em lugar de regar 60 hectares – a superfície média de um campo de golfe – ou 30 hectares – a superfície média do jogo – serão regados apenas três hectares, o que aumentará em 80% a qualidade do terreno, garante López. O campo será, desse modo, de uma qualidade média-superior, uma categoria que ele gostaria que fosse desenvolvida porque, conforme López, não há motivos para a existência penas de campos de luxo. – No futebol, um terreno gramado equivale a dez de campina e a 20 de terra – conclui. (GM, 08/08)