Abelhas reforçam renda e biodiversidade
abelhas
2005-08-08
A criação de abelhas nativas, sem ferrão, será ampliada na Floresta
Amazônica. Seis comunidades da região de Parintins (AM), cidade mais
conhecida por seu festival popular semelhante ao Carnaval, foram
selecionadas pelo governo federal para aderir ao projeto, que tem como
objetivo gerar renda para os trabalhadores e, ao mesmo tempo, fortalecer a
biodiversidade amazônica por meio da polinização.
Os moradores se reuniram com técnicos e entidades na comunidade de Menino de
Deus do Paraná, em Parintins, para iniciarem o treinamento necessário, no
final de julho. A capacitação foi dada pelo INPA (Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia), do governo federal, e pela organização
não-governamental GRANAV (Grupo Ambiental Natureza Viva), que ajudam
comunidades da região da várzea amazônica a criar abelhas nativas do Brasil.
Esses insetos são de um tipo que não pica e não possui ferrão: a família dos
meliponíneos, que abriga cerca de 190 espécies. Criadas em caixinhas,
essas abelhas não exigem a utilização de roupas especiais, o que barateia a
produção de mel.
As duas entidades começaram a trabalhar juntas a partir de uma troca de
experiências promovida pelo ProVárzea/Ibama (Programa de Apoio ao Manejo dos
Recursos Naturais da Várzea), que tem o apoio do PNUD. O Grupo de Pesquisas
em Abelhas do INPA atua em quatro comunidades do Estado. Três delas são
aldeias indígenas: Marajaí, no município de Alvarães, da tribo mayoruna;
Murutinga, em Autazes, dos índios mura; e Vila Nova Doandira, entre as
cidades de Parintins e Maués, da tribo saterê-mawe. A quarta é um
assentamento de reforma agrária, montado pelo INCRA (Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária), chamado Comunidade Panelão, em Careiro do
Castanho. O GRANAV atua nas comunidades de Menino de Deus do Paraná e
Perpétuo Socorro.
As comunidades de Parintins que entrarão para o projeto são: Bom Socorro,
Santa Rita da Valéria, Nova Olinda, São José, Santíssima Trindade e Santo
Antônio do Piracajá. Depois da capacitação inicial feita pelas duas
entidades, o trabalho agora segue sob a coordenação do GRANAV.
As comunidades escolhidas, como deverá acontecer em Parintins, recebem
capacitação contínua para aprender a implantar e multiplicar os criadouros,
criar as abelhas, manusear e embalar o mel e o pólen da melhor forma
possível, respeitando as normas de higiene. O processo de aprendizagem é
longo, afirma a coordenadora do Grupo de Pesquisas do INPA, Gislene
Carvalho-Zilse.
— Dominar essa técnica demanda muito tempo. A Amazônia possui
um ciclo de secas e chuvas muito marcado, com pragas diferentes em
diferentes épocas do ano. Não é possível então fazer o treinamento em apenas
uma época do ano. O trabalho precisa ser contínuo e durar cerca de um ano e
meio a dois anos-, explica.
O trabalho também envolve a pesquisa de quais plantas são polinizadas por
essas espécies. O objetivo é que, para fortalecer o desenvolvimento das
abelhas, as comunidades passem a proteger mais os vegetais selecionados
pelos insetos e a cultivá-los em maiores números.
O mel produzido tanto nas comunidades apoiadas pelo INPA quanto nas do
GRANAV é utilizado na alimentação das famílias. A produção extra é vendida,
também com o apoio das organizações, gerando renda e fortalecendo os grupos.
O trabalho, no entanto, traz um benefício extra, de acordo com a
coordenadora Gislene Carvalho-Zilse. — As abelhas são responsáveis pela
polinização de 90% das plantas nativas da várzea amazônica. Assim, o manejo
racional delas traz como conseqüência a proteção de toda a rede de
biodiversidade local-, afirma. — A melhoria no tratamento das abelhas resulta
em mais plantas, que por sua vez alimentam os animais da floresta e daí por
diante-, explica.
O INPA lançou em junho passado uma cartilha sobre a criação de abelhas dessa
família, elaborado pelo Grupo de Pesquisas em Abelhas e editado pelo
ProVárzea/Ibama. O GRANAV, por sua vez, publicou um livro com a história da
entidade, desde sua fundação, também com o ProVárzea.
(PrimaPagina, 07/08/2005)