Cientistas questionam intensidade e rapidez do aquecimento da Terra
2005-08-08
Uma variedade de pesquisas científicas afirma que a Terra já está
experimentando um significativo aquecimento global. As
questões que se colocam agora são qual a intensidade e a rapidez desse aquecimento, e com quais
efeitos. Alguns cientistas da área climática advertem
que o ritmo do aquecimento global poderia ser muito
mais rápido do que o previsto há poucos anos.
— A qualquer tempo que sejam feitas as projeções,
cai-se em uma grande quantidade de incertezas. Mas os
modelos climáticos estão se tornando muito fortes-,
afirma Jay Gulledge, pesquisador sênior do Instituto
Pew Center de Mudança Climática Global, com sede em
Arlington, Virginia. Gulledge afirma que algumas
projeções atuais apontam uma elevação na temperatura
global na faixa de 0,5ºC (levemente inferior a 1°F) no
ano 2030.
As estimativas estão baseadas no espalhamento dos
gases de efeito estufa que já se encontram na
atmosfera. Enquanto o aumento da temperatura é
pequeno, este espalhamento seria significativo. No
século passado, a Terra aqueceu em torno de 1°F (ou
seja, cerca de 0,6°C), segundo pesquisas do próprio
Pew Center. Gulledge adverte, porém, que as taxas de
alerta dependem de muitos fatores, alguns dos quais
ainda estão para serem descobertos. — Um dos
grandes desconhecimentos é como a sociedade irá
reagir-, afirma Antonio Busalacchi, meteorologista da
Universidade de Maryland que secretaria o comitê de
pesquisa do clima ada Academia Nacional de Ciências.
— Estamosa caminhando para uma mudança?-,
questiona ele.
O professor John Harte, de ciências dos ecossistemas,
da Universidade da Califórnia, em Berkeley, já está
vendo um possível resultado futuro do aquecimento global.
Por 15 anos, ele aquecem artificialmente seções da
pradaria de Rocky Mountain em torno de 3,6°F (ou 2°C)
para estudar os efeitos projetados do aquecimento
global. Ele documentou as mudanças dramáticas nas
pradarias da comunidade. Sagebrush, numa altitude
limite desta paisagem natural, está substituindo
flores alpinas. Testes de solo mostraram uma perda de
20% do carbono natural. Se este efeito se
disseminasse, poderia haver um aumento dramático nos
níveis de dióxido de carbono da Terra. — Solos ao
redor do mundo detêm cerca de cinco vezes mais carbono
do que a atmosfera em forma de matéria orgânica-,
assinalou Harte.
Se uma quantidade de perda de carbono similar se
repetisse em escala global, a quantidade de carbono na
atmosfera poderia duplicar. Agora, o teste é para
apenas um ecossistema, e não se podem fazer afirmações
globais a partir de uma pradaria, assinalou
Harte. Contudo, segundo ele, poderia haver resultados
similares a partir de outros ecossistemas, entre os
quais tundras.
Além disto, está havendo sinais reais de mudança
climática na manta do globo. Quando o Parque Glacial
Nacional de Montana foi aberto, em 1910, ele tinha
cerca de 150 áreas de glaciares. Agora tem menos de
30, e eles estão bem reduzidos. Na Tanzânia,
as legendárias neves do Monte Kilimanjaro derreteram
em 80% desde 1912, num processo que pode se estender
até 2020. — Sabemos que a maioria dos glaciares
do mundo estão retrocedendo-, diz Mark Serreze, do
Centro Nacional de Dados sobre Neve da Universidade do
Colorado, em Boulder. As regiões do Ártico estão
sentindo mais os efeitos do calor e estão entre as
mais alteradas das últimas décadas. Nos últimos 50
anos, as temperaturas cresceram de 4ºC a 7ºF —
ou de 3ºC a 4ºC — o que representa duas vezes a
média global.
Para os próximos cem anos, espera-se uma alta de 7ºF a
13ºF, ou 4° a 7°C, conforme um estudo multinacional
sobre os impactos da mudança climática.O
desaparecimento do gelo no Ártico é uma tendência que
deve continuar. As populações globais localizadas no
Ártico devem diminuir em 30% nos próximos 35 a 50
anos, segundo um recente estudo realizados por um
grupo da Unão para a Conservação do Mundo. — O
que me surpreende é que quanto mais rápido o
aquecimento global está acontecendo, mais sensíveis
ficam os recursos ecológicos à mudança climática,
afirma o ecologista Hector Galbraith, do Instituto
Galbraith de Ciências Ambientais da Universidade do
Colorado em Boulder. Ele acredita que nas próximas
duas a três décadas a Terra experimentará aceleração
na mudança dos ecossistemas. (Fonte: National
Geographic News 30/07)