Nove países têm armas nucleares e 20 poderiam construir a bomba atômica
2005-08-08
Nove países têm armas nucleares e mais ou menos 20 têm tecnologia para construí-las. Mas o mais aterrador é seu uso por organizações terroristas. Apesar de as 55 pessoas que participaram da celebração das vítimas de Hiroshima, as Nações Unidas não têm perspectiva de que se conseguirá um mundo livre de armas nucleares em 2020.
Com o final da Guerra Fria, no fim dos anos 80, não se configurou um mundo mais seguro. Pior que isto, a realidade mostra que até mesmo na Ásia existe o risco nuclear. Atualmente, são nove os países com arsenais nucleares, embora somente cinco – as grandes potências do Conselho de Segurança da ONU: Estados Unidos, Rússia, França, China e Grã-Bretanha – tenham legalizado esse status. A questão é: o que acontece com as demais Índia, Paqusitão, Israel, e Coréia do Norte? Em meados de julho, uma reunião, realizada em Washingtonn, marcou uma mudança importante na Ásia e, em longo prazo, significará um forte impacto no cenário mundial. Trata-se de um acordo de colaboração nuclear entre Nova Dehli e Washington que, segundo o diário Hindustan Times, em reportagem do último dia 18 de julho, implicou o reconhecimento, pelos Estados Unidos, de que a Índia é um Estado nuclear, quer dizer, a Casa Branca avalia a existência de armas atômicas indianas e inclui o país informalmente como um membro do seleto clube.
Defensores e detratores não tardaram em reagir –Isto significa um golpe mortal ao Tratado de Não-proliferação de Armas Nucleares (TNP), que apenas reconhece cinco potências atômicas e incita o restante dos países firmatários a não obter armas atômicas?– É muito perigoso. A Índia nunca firmou o TNP e construiu a bomba. Isto então pode ser ido como os Estados Unidos favorecendo a quem tem armas e tratando duramente a quem não tem, disse à imprensa norte-americana o diretor do Instituto de Energia e Ambiente de Maryland, Arjun Majijani.
–O que vai se decidir no Japão, na África do Sul, na Argentina, no Brasil e na Suécia, entre outros países que renunciaram seu desenvolvimento de armas atômicas em função do pacto que agora está sendo rompido?, pergunta-se o jornalista Praful Bidwai, do Hindustan Times. Já Joseph Cirincione , da Fundação Carnegie para a Paz Internacional, coloca um ponto sobre o risco maior: –Debilita o objetivo da não-proliferación e ficará mais difícil a cooperação mundial para frear a carreira das armas atômicas. Agora será muito mais fácil para a Rússia vender equipamentos nucleares ao Irã e a outros países, assinala.
No plano geoestratégico, o acmarca um giro de Bush, que teria no Paquistão seu maior aliado regional. –O acordo com a Índia pode ver-se como um segmento da política norte-americana de equilíbrio de poderes na Ásia meridional, diz o especialista Sergio Cesarín. –Paquistão, um sócio importante quando a União Soviética estava no Afganistão e ainda mais depois de 11 de setembro de 2001, para a resolução do problema talibã, talvez já não seja um sócio tão confiável no que tange ao controle do terrorismo internacional. Os fatos de Londres assim o indicam. Dar poder à Índia – diz Cesarín – é a melhor política de contenção contra a China, futuro rival estratégico dos Estados Unidos, acrescenta.
Em maio de 1998, a Índia realizu ensaios atômicos subterrâneos, e o Paquistão fez o mesmo alguns dias depois. É a China que provê tecnologia nuclear ao Paquistão. As potências os sancionaram duramente. Ainda que, em 12 de setembro de 2001, tivessem sido perdoados em troca de colaborar na luta contra a Al Qaeda.
Israel, por sua vez, nunca confirma nem rechaça ter armas nucleares. Não obstante, na semana passada, documentos secretos dos Arquivos Nacionais de Kew obtidos pela BBC revelam que a Grã-Bretanha vendeu secretamente a Israel 20 toneladas de água pesada, em 1958, para a produção de plutônio no reator nuclear de Simona, no deserto de Neguev. A Coréia do Norte, em troca, admitiu, em fevereiro passado, ter um módico arsenal nuclear. (Clarín, 7/8)