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2005-08-05
Quatro tripulantes do catamarã Gamboa do Morro, da empresa Biotu, que se chocou com uma baleia no domingo, contaram suas versões sobre o acidente e revelaram ter visto sangue no mar e ouvido o gemido do animal na hora da colisão. Os depoimentos fazem parte da inspeção naval, iniciada no dia 2 pela Capitania dos Portos, para apurar as causas e responsabilidades do acidente, que ainda não foi concluída. Não existe informações concretas se houve ou não falha do condutor. Enquanto as dúvidas circulam em torno da investigação, a certeza de que milhares de baleias vão migrar para costa baiana até o final de novembro preocupa entidades envolvidas com animais marinhos. Ontem, mais um catamarã que fazia a travessia Salvador-Morro de São Paulo se deparou com uma jubarte, mas o condutor desviou a tempo de evitar o choque.

O capitão Alexandre Augusto Miranda de Souza afirmou que todas empresas de embarcações marítimas receberam uma determinação exigindo cuidado redobrado na hora de fazer navegar pelo litoral baiano. - Tivemos o acidente no domingo. Hoje (ontem) mais uma baleia já foi avistada. Teremos que ficar bem atentos, já que elas estão parecendo com freqüência -, reforçou capitão Miranda. O Instituto Baleia Jubarte (IBJ) estima que o número de baleias na costa baiana deve aumentar bastante este ano. Entre os meses de julho e novembro, elas saem da Antártida, onde se alimentam, e vêm para as águas quentes e tranqüilas da Bahia.

Anualmente, cerca de três mil baleias migram para essa região, local preferido por estes mamíferos marinhos para se reproduzir e amamentar os filhotes. Na temporada de 2004, técnicos do IBJ avistaram 1.326 baleias. Destas, 796 foram observadas no Banco de Abrolhos, no extremo sul do estado, e 530 na Praia do Forte. De acordo com o biólogo do IBJ, Clarêncio Baracho, há muito tempo as baleias jubarte freqüentam o litoral baiano. - Diminuiu um pouco em função da caça comercial, mas desde o ano passado voltou a aumentar. Este ano, com certeza teremos milhares -, assegurou o biólogo.

Antes da caça, a população mundial de baleias jubarte totalizava cerca de 300 mil. Hoje estima-se que restam aproximadamente 35 mil. Em 1966, a Comissão Internacional da Baleia (CIB) proibiu a caça de baleias jubarte, e em 1986, passou a vigorar uma moratória mundial da caça comercial de baleias. Atualmente, apenas Japão, Noruega e a Islândia violam a proibição. O Brasil aderiu à medida proibitiva em 1985, e desde 1987, há uma lei federal que proíbe a caça de baleias em território nacional. O Brasil é hoje um dos mais importantes defensores destes mamíferos marinhos no cenário internacional.

Além disso, a baleia jubarte consta da lista do Ibama de espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção e do apêndice I da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Flora e Fauna Selvagens (Cites), além de constar na categoria vulnerável da World Conservation Union (IUCN). - Nos últimos cinco anos, o número de avistagens da espécie aumentou, demonstrando a recuperação do local, como conseqüência da proibição da caça e do sucesso dos trabalhos de conservação do Instituto Baleia Jubarte -, comemora Baracho.

Outras espécies marinhas são encontradas
Não somente as baleias jubartes resolveram passear no litoral baiano esta época do ano. Outras espécies marinhas, que não costumam habitar o mar da Bahia, estão sendo encontradas. Na praia de Porto Seguro, um lobo-marinho foi resgatado pela equipe do Corpo de Bombeiros, ontem. O animal foi trazido por funcionários do Ibama para a sede do Projeto Mamíferos Marinhos (Mama), em Patamares, onde está sendo avaliado por uma equipe de veterinários.

Na costa da Ilha de Itaparica um outro aparecimento: um pingüim da espécie Sphenisus magelânico, conhecido como pingüim de Magalhães. O animal, pesando 1,6kg, está desidratado e muito abaixo do peso. Depois do resgate feito pela equipe do Centro de Resgates de Mamíferos Aquáticos, do Projeto Mamíferos Marinhos (Mama), anteontem, o pingüim foi levado para a sede da instituição, onde ficará sob cuidados veterinários, até o final de agosto.

De acordo com Luciano Vagner, coordenador do centro, o pingüim deveria estar a caminho da colônia reprodutiva da Patagônia, quando pegou a corrente marítima errada e veio parar no litoral baiano. - Isso sempre acontece. Temos outro que apareceu aqui no mês de maio. Quando encontramos o animal, ele pesava 600g, agora já está com 4kg. Vamos trabalhar para que o outro também engorde. Depois que passar a temporada, mandaremos os dois para o Rio Grande do Sul -, afirmou.

Os animais, acompanhados por um veterinário, são levados para o Centro de Reabilitação de Animais Marinhos (Cram), no Rio Grande do Sul. Segundo Wagner, a viagem dos pingüins, via área, está prevista para o final deste mês. - Lá, eles são unidos a um outro grupo e é feita a soltura. Eles se reintegram e seguem seus caminhos -, explicou. Caso alguma espécie marinha seja encontrada no litoral baiano em condições de perigo, o telefone para contato é o 71-9198-2620. Procurar pelo coordenador do Centro de Resgates de Mamíferos Aquáticos, do Projeto Mamíferos Marinhos (Mama), Luciano Vagner. A ligação pode ser feita a cobrar.

RECOMENDAÇÕES
Para evitar que as baleias sejam molestadas durante seu período reprodutivo, o Ibama baixou a portaria 117/96, alterada pela portaria 117/2002, que estabelece normas para a observação dos mamíferos marinhos em águas brasileiras. As principais recomendações são:

Não aproximar as embarcações de qualquer espécie de baleia, com o motor engrenado. Os barcos devem ficar a 100m de distância do animal e desligar o motor se o animal se aproximar voluntariamente.
Não seguir qualquer baleia por mais de 30 minutos, com o motor ligado, ainda que respeitadas as distâncias.
Não interromper, tentar alterar ou dirigir o curso do deslocamento de cetáceos (baleias e golfinhos) de qualquer espécie.
Não dividir ou dispersar grupos nem produzir ruídos excessivos a menos de 300m do animal.
Não despejar qualquer tipo de detrito no mar.
Evitar aproximação caso outra embarcação esteja próxima do grupo ou indivíduo em observação.
Não mergulhar ou nadar junto das baleias. (Correio da Bahia, 04/08)

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