Governo do Paraná alerta para alta incidência do glifosato na soja transgênica
2005-08-05
No início de 2004, mesmo período em que se iniciaram as discussões acerca da liberação da soja transgênica no Paraná, este número aumentou em 50 vezes: foi de 0,2 mg/kg para 10 mg/kg. Apesar de estarem dentro da legalidade, os índices de resíduos do Glifosato apresentados nas amostras analisadas são bastante preocupantes.
Os agrotóxicos são substâncias químicas ou biológicas que, quando bem utilizadas, impedem a ação danosa de seres vivos nocivos à agricultura, sem estragar os alimentos. Na soja convencional, estes produtos são utilizados apenas no pré-plantio, ou seja, no momento em que a terra ainda não recebeu a semente. Isso faz com que o veneno atue na eliminação das ervas daninhas sem entrar em contato com o alimento. Desta maneira, os riscos de danos à saúde dos seres humanos por meio do consumo de soja e seus derivados, apesar de existentes, tornam-se mínimos.
A grande preocupação está na utilização dos agrotóxicos no cultivo da soja transgênica, afirmam os técnicos da Defesa Sanitária. Nesta cultura, segundo eles, o herbicida é utilizado também no período pós-emergente, ou seja, diretamente sobre a planta germinada. Com isso, as chances de resíduos das substâncias tóxicas utilizadas nesta etapa permanecerem no alimento são maiores. Como 60% dos produtos comprados nos supermercados contêm soja, fatalmente os que são derivados das geneticamente modificadas também correm grande risco de estarem contaminados.
Além dos danos ao meio ambiente causados pelo uso abusivo de agrotóxicos, que contribuem para o empobrecimento do solo, os riscos com a saúde animal também são eminentes. Segundo estudos de pesquisadores franceses da Université de Caen, dentre os possíveis prejuízos causados à saúde humana, por exemplo, está, no caso das mulheres, o aborto. O chefe da seção de Fiscalização do Receituário Agrônomo e Ecotoxicologia da Secretaria de Agricultura, Reinaldo Onofre Skalisz, ressalta ainda que outra preocupação do Governo do Paraná é com relação às exportações. - Logo os países importadores, observando todos esses riscos, poderão restringir a entrada da soja transgênica brasileira por estarem contaminadas com Glifosato e AMPA. Para o técnico, a saída será evitar o consumo de alimentos que contenham organismos geneticamente modificados, - pois ainda não sabemos se após o preparo os resíduos dos agrotóxicos são eliminados ou não dos alimentos à base de soja transgênica -, acrescentou.
Para o vice-governador e secretário da Agricultura, Orlando Pessuti, o importante é que o Departamento de Fiscalização da Secretaria continuará desempenhando a sua parte no controle da qualidade dos produtos e insumos agropecuários paranaenses, bem como desempenhando seu trabalho de prevenção, controle e erradicação de pragas e doenças nas mais de 500 atividades executadas pelo Departamento. - E não será diferente com a soja. Para nós, a preocupação com a sanidade animal e também a do meio ambiente é prioridade -, observou.
Resistência ao herbicida
O herbicida à base de Glifosato é o único capaz de exterminar as ervas prejudiciais à planta sem danificá-lo. O problema é que a utilização desta substância vem aumentando consideravelmente por causa do seu uso nos transgênicos. Pesquisas recentes comprovam que algumas pragas estão desenvolvendo resistência ao herbicida, o que acaba exigindo o aumento no número de aplicações. Como a Monsanto é a única detentora do agrotóxico utilizado para a soja transgênica, além de ter também a patente da semente desta planta, é apenas ela quem acaba lucrando com o mercado da soja transgênica.
A quantidade de substâncias tóxicas utilizadas no manejo das culturas anuais, convencionais ou não, já é preocupante pelos possíveis danos ao meio ambiente e aos animais, porém, o problema se agrava consideravelmente por causa do alto índice de agrotóxico utilizado na soja geneticamente modificada. Nesta cultura, o número de aplicações do herbicida à base de Glifosato acaba sendo muito maior que na soja convencional, por poder ser usado também no pós-emergente. (Eco Agência, 04/08)