Planeta não dará conta do excesso de carbono
2005-08-05
Se alguém ainda contava com o planeta para resolver sozinho o problema das mudanças climáticas, pode desistir. Um estudo publicado nesta semana nos Estados Unidos conclui que a capacidade de armazenagem do planeta e a progressão do aquecimento global são inversamente proporcionais: quanto maior a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, menor a capacidade dos ecossistemas de compensar esse excesso pelo aumento do seqüestro de carbono.
Uma das principais dúvidas dos cientistas com relação ao futuro das mudanças climáticas refere-se à capacidade dos biomas terrestre e oceânico de reagir ao aumento da concentração de gases do efeito estufa, retirando mais CO2 da atmosfera. Oceanos, e florestas em geral são vistos como escoadouros ou sorvedouros naturais. Das 7 bilhões de toneladas de carbono lançadas pelo homem na atmosfera anualmente, acredita-se que 2 bilhões permanecem na atmosfera e 3 bilhões são absorvidos pelos oceanos. Os outros 2 bilhões, ninguém sabe ao certo, mas é provável que estejam sendo consumidos pelas florestas no processo de fotossíntese. Nesse sentido, o dióxido de carbono funciona como um fertilizante: quanto mais CO2, mais rápido as plantas crescem.
Seria fácil imaginar, portanto, que o excesso de carbono emitido pelo homem na atmosfera seria compensado por um aumento da fotossíntese e da absorção oceânica. Mas não é o que diz o estudo. - À medida que você aumenta a concentração de carbono na atmosfera, a eficiência dos escoadouros diminui, diz o pesquisador Scott Doney, do Instituto Oceanográfico de Woods Hole (WHOI). –Pior do que isso: à medida que aumenta a temperatura do planeta, o acúmulo de CO2 ocorre cada vez mais rápido. É um daqueles ciclos viciosos que seria ótimo para sua conta bancária, mas que para o sistema climático não é nada bom.
No caso das florestas tropicais, como a Amazônia, o clima deverá se tornar mais quente e seco. O que significa solos também mais secos e menos nutritivos, dificilmente capazes de sustentar o aumento de biomassa sugerido pelo aumento de CO2 atmosférico. No caso dos oceanos, espera-se uma redução da circulação interna necessária para a absorção do gás da atmosfera. O estudo está publicado na última edição da revista PNAS. (O Estado de S. Paulo, 03/08)