A gênese da agricultura e da silvicultura moderna no estado de São Paulo
2005-08-05
Resumo: A modernização da agricultura e o surgimento da silvicultura em sua gênese no início do século XX, no Estado de São Paulo, são abordados e analisados nesta pesquisa. Nossa hipótese é a de que a elite agrária, incluindo Edmundo Navarro de Andrade, considerado um ícone da silvicultura no país, possuía um projeto de modernização da agricultura que se servia de modelos europeus e norte-americanos. Podemos dizer que a elite agrária se impõe ao país porque tinha uma proposta política consistente, bem fundamentada cientificamente, atualizada em relação a outros países e articulada com outros setores da sociedade, tais como os políticos e a mídia, principalmente. São apresentados fatos que mostram que a modernização da agricultura foi um processo mundial, que o Brasil nela se insere elegendo a Europa como modelo intelectual e os Estados Unidos como exemplo concreto a ser imitado em suas realizações, sendo a Sociedade Paulista de Agricultura (SPA) a principal incentivadora no Estado de São Paulo.
O governo de Jorge Tibiriçá (1905-1908), cujo secretariado era composto em sua totalidade por membros oriundos da SPA, foi seu primeiro implementador. Esta pode ser considerada a primeira experiência de aplicação da ciência como norteadora de uma política pública bem definida em relação à agricultura. A ferrovia é o principal agente da modernização no campo ao permitir a agricultura avançar para além de duzentos quilômetros do litoral e ao permitir a circulação de mercadorias, pessoas e idéias. Faz parte da agricultura moderna: o uso de princípios científicos e tecnologias na organização do trabalho agrícola; a diversificação da agricultura; a implantação de colônias para fixar o colono à terra, tornando-os pequenos proprietários; a pesquisa agrícola para produção ou adaptação de novos conhecimentos e o ensino agrícola - a reformulação da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) é a grande realização deste governo. Navarro se insere neste processo desde o seu retorno ao Brasil após conclusão dos estudos na Europa, em 1903, produzindo conhecimento de natureza teórico-prático em diversos ramos da agricultura moderna, mas se sobressai ao implantar nos Hortos da Cia Paulista de Estradas de Ferro a silvicultura moderna para suprir a demanda de lenha e acalmar os críticos que a acusavam de destruir florestas numa velocidade vertiginosa.
O encantamento geral despertado pela figura de Navarro se deve ao fato de os níveis de excelência alcançados em suas experiências muito tempo depois ainda não haviam sido superados. Entretanto, como conservacionista, podemos quando muito argumentar que nem mesmo na Cia Paulista de Estradas de Ferro sua empreitada foi satisfatória, pois ela nunca conseguira produzir mais de quarenta por cento da lenha que consumia, ou seja, mesmo com um mar de eucalipto ainda continuava consumindo árvores e florestas naturais inteiras.
Instituição: Universidade de São Paulo (USP).
Autor: Mario Roberto Ferraro.
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