Dragagem do porto de Santos é suspensa
2005-08-04
A dragagem do porto de Santos parou novamente. Depois de enfrentar uma batalha de mais de dois anos de duração com órgãos de licenciamento ambiental, o governo federal havia conseguido, em fevereiro, reiniciar as obras. Agora, falhas no relatório feito pela empresa que monitora a contaminação do material dragado suspenderam novamente o processo. Em seu projeto original, o canal onde atracam os navios deveria ter calado (profundidade, medida pela distância vertical entre a superfície da água em que a embarcação flutua e a face inferior da sua quilha) variando de 12 a 14 metros. Com o tempo, o canal foi sendo assoreado (obstruído, por areia ou por sedimentos) e agora essa profundidade varia de 10 a 12 metros.
A conseqüência prática da redução do calado para a infra-estrutura do país é que os navios estão saindo do porto com menos carga do que poderiam levar -de acordo com estimativa do Ministério dos Transportes, com 70% de sua capacidade. Além disso, navios maiores deixam de atracar no porto. Esses problemas encarecem o custo dos produtos exportados. O porto de Santos é o principal do país, responsável por 28,2% das exportações.
- A diminuição do calado traz prejuízos, porque os navios têm sua capacidade de carga reduzida. O aumento do calado aumenta o potencial exportador -, diz o almirante José Ribamar Miranda Dias, vice-presidente-executivo da Associação Nacional dos Usuários de Transporte de Carga.
Crescimento
A movimentação no porto de Santos vem crescendo ano a ano: 16% de 2002 para 2003 e 13% de 2003 para 2004. A expectativa é que em 2005 haja crescimento de 10,3% no volume de cargas. Entre janeiro e junho deste ano, foram 35,3 milhões de toneladas, 7,82% a mais do que no mesmo período do ano passado. A previsão é que, até o fim do ano, sejam movimentados 73,9 milhões de toneladas, com crescimento de 10,3% em relação ao ano passado.
Como o porto não tem para onde se expandir, precisa aumentar sua eficiência. - A dragagem é fundamental para não haver estrangulamento do porto -, diz Fabrizio Pierdomênico, diretor comercial da Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo).
De acordo com o diretor, depois de restabelecido o calado original do canal do porto, nova dragagem será feita para aumentar o calado para até 15 metros. - O calado maior permite que os navios saiam mais carregados e que navios maiores entrem no porto.
Ostras
Para vencer a guerra contra as restrições ambientais, o governo federal optou por uma solução criativa: ostras, trazidas de Santa Catarina. Os moluscos foram instalados no local de descarte do material dragado. O objetivo é, mensalmente, analisar os moluscos e verificar seu nível de contaminação. Dessa forma, é possível checar se a contaminação do material dragado está dentro dos parâmetros tolerados para o ecossistema marítimo. Com a instalação das ostras, a dragagem foi liberada em fevereiro.
O relatório sobre o nível de contaminação do material dragado foi enviado à Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), que o considerou inconsistente. Ou seja, pelos dados contidos no relatório, não era possível saber com certeza se havia ou não contaminação. Na dúvida, a dragagem foi suspensa no último dia 18. Na avaliação de Pierdomênico, novo relatório deverá ser enviado à Cetesb em aproximadamente dez dias. O diretor da Codesp calcula que a dragagem deverá ser retomada daqui a 20 ou 25 dias. A partir daí, a obra leva cerca de seis meses para ser concluída. A dragagem está custando R$ 33 milhões ao porto de Santos.
O monitoramento da contaminação, mais R$ 3 milhões. O principal problema ambiental a ser analisado é a contaminação do material dragado por benzopireno (substância cancerígena), vindo da queima de carvão em altos-fornos de usinas de Cubatão. O material retirado do fundo do canal é jogado no mar, em uma área distante aproximadamente 15 quilômetros do porto. (Folha de São Paulo, 03/08)