O pensamento ambiental sistêmico: uma análise da comunicação científica da ESALQ/USP
2005-08-04
Resumo: Durante o século XX sedimentou-se a percepção de que o conhecimento disciplinar fragmentado é incapaz de explicar e resolver a problemática ambiental. A partir disso, surgiu um grande desafio no campo da educação: um amplo e complexo processo de reorientação do conhecimento, das ideologias, dos paradigmas científicos e das práticas de pesquisa. As questões ambientais e sociais abriram o caminho para o pensamento sistêmico e também para métodos interdisciplinares de pesquisa, capazes de articular diferentes disciplinas com o intuito de compreender as múltiplas relações, causalidades e interdependências entre os processos naturais e sociais.
É nessa perspectiva que se inscreve um novo paradigma concebido por Edgar Morin e denominado de pensamento complexo, que se origina no pensamento sistêmico. Este estudo analisou as publicações científicas Scientia Agricola (SA) e Scientia Forestalis (SF), bem como todas as teses de livre-docência desenvolvidas pela ESALQ/USP, no período de 1998 a 2002. A partir desse conjunto, utilizou-se para análise uma amostragem correspondente a 20%, sendo 136 artigos científicos da SAe SF e todas as 40 teses de livre-docência. Buscou-se conhecer as abordagens adotadas, as quais foram categorizadas sob dois aspectos: 1º) Caráter Interdisciplinar e 2º) Se estavam inseridas no novo paradigma (pensamento sistêmico, segundo Morin). Também foram analisadas as características estruturais e administrativas dos periódicos. Somente 6 artigos (4,4% da amostra) empregaram o pensamento sistêmico. Estes artigos também foram considerados interdisciplinares, sendo 1 artigo publicado na revista SA e 5 na revista SF. Apenas duas teses de livre-docência (5% do total) empregaram o pensamento sistêmico. Os resultados obtidos no estudo permitem concluir que os periódicos científicos SA e SF possuem prestígio e estão consolidados por suas periodicidades ininterruptas, corpos editoriais compostos por renomados profissionais.
Estas publicações são importantes veículos de disseminação do conhecimento científico agrário e florestal. Entretanto, seguem linhas editoriais que não apresentam uma análise ambiental sistêmica ou complexa. Em geral, as pesquisas publicadas por ambos periódicos científicos e as teses de livre-docência, não possuem uma abordagem ambiental com bases conceituais integradas e interdisciplinares. Há uma forte tendência à fragmentação cartesiana e à separação entre o humano e o natural. Na produção científica da ESALQ analisada, a interdisciplinaridade e a idéia de complexidade são temas ainda ausentes e a pesquisa científica tem obstáculos epistemológicos, metodológicos e institucionais por enfrentar.
Instituição: Universidade de São Paulo (USP).
Autor Renata Coelho Sartori.
Contato: e-mail rcsartori@bol.com.br