Pesquisa publicada na Nature mostra que reserva, sozinha, não protege mamíferos
2005-08-03
Dois estudos publicados no último dia 22 de julho mostram que proteger a biodiversidade da Terra será um trabalho ainda mais delicado do que se supunha. Um deles revela que, se o objetivo é proteger uma fração minimamente decente de todas as espécies de mamífero do globo, serão precisos uns 11% da superfície da Terra coisa demais para simplesmente transformar em reservas. O outro sugere que mamíferos grandes são intrinsecamente vulneráveis a extinções – e precisam de cuidados especiais.
Os dois estão na prestigiosa revista americana Science (www.sciencemag.org), e envolvem um mapeamento detalhado de milhares de espécies do grupo a que pertence o ser humano. O grupo liderado por Gerardo Ceballos, da Universidade Nacional Autônoma do México, usou dados sobre a distribuição geográfica de 4.795 espécies (deixando de lado apenas os mamíferos marinhos) para estabelecer prioridades mundiais de conservação – ou seja, quantas e quais áreas precisam ser protegidas com mais urgência para salvar os bichos.
A unidade básica desse projeto mundial de proteção seriam células com área de 100 mil quilômetros quadrados. Com os parâmetros de cada espécie em mãos, a equipe pôs para funcionar uma simulação para computador chamada Marxan, que ajuda justamente a estabelecer os melhores locais para proteção. A condição imposta às simulações era conseguir proteger pelo menos 10% da área ocupada por cada espécie – o mínimo considerado adequado hoje pelos ecólogos.
Depois de 250 simulações, o programa concluiu que pelo menos 1.702 células – mais de 17 milhões de quilômetros quadrados – seriam necessárias para cumprir o critério de proteção. Trata-se de 11% da superfície seca do planeta, sem contar as áreas permanentemente cobertas por gelo. A boa notícia é que 95% das células podem ser trocadas por outras sem prejuízo da proteção almejada; a má é que 80% delas já foram afetadas pela agricultura de alguma forma. –A conservação em áreas protegidas não pode ser a única estratégia, conclui o grupo. Eles sugerem incentivos financeiros para que áreas com utilização econômica também possam manter sua biodiversidade.
Já o trabalho de Marcel Cardillo e seus colegas do Imperial College, no Reino Unido, sugere que é um péssimo negócio ser mamífero e pesar mais de três quilos. Usando dados de espécies ameaçadas de extinção, eles verificaram que, acima dessa dimensão, os mamíferos ficam muito mais vulneráveis, aparentemente por causa de fatores da sua própria biologia. –Sabíamos há muito tempo que o tamanho grande traz certas desvantagens, como baixa taxa de reprodução e baixa densidade demográfica, contou Cardillo à Folha. O tempo de desmame também é importante.
–Nosso estudo, porém, mostra dois problemas extra causados pelo tamanho. Há uma interação entre ser grande e vários fatores de risco, o que significa que uma taxa reprodutiva menor atrapalha mais quando você é grande, diz ele.
–Ainda não sabemos o significado exato dos 3 kg – pode ser só o tamanho em torno do qual os efeitos cumulativos desses vários fatores de risco passam a operar. Em resumo: –Num mundo dominado por humanos, o tamanho grande parece ser uma desvantagem muito maior do que imaginávamos, e maior é a necessidade de proteger a diversidade de grandes mamíferos. (FSP, 22/7)