Queimadas ameaçam parques e terras indígenas
2005-08-02
A temporada de queimadas está começando e os técnicos que monitoram estas
ocorrências estão apreensivos com o que vai ocorrer nas áreas indígenas e
nos parques nacionais, onde houve um aumento surpreendente no número de
focos de fogo na temporada passada de junho a novembro de 2004. Nas reservas
indígenas o aumento de focos foi de 83% sobre junho a novembro de 2003,
enquanto nas áreas de conservação federais os focos praticamente duplicaram,
com um aumento de 97%.
Teme-se mais fogo neste ano. Desmatou-se muito no ano passado, e muito vai
ter de queimar até que os troncos derrubados sejam eliminados, pois não
podem ser comercializados (pelos desmatadores), explica Evaristo Eduardo de
Miranda, pesquisador e chefe geral da Embrapa Monitoramento por Satélite.
Segundo ele, leva até oito anos para que sucessivas queimadas eliminem os
restos de um desmatamento.
O aquecimento da atividade econômica na região amazônica também prenuncia
mais fogo nesta temporada. — Até hoje, sempre houve uma relação direta
entre crescimento econômico e aumento das queimadas-, explica Miranda. Mas
isso não vale para explicar a queima em áreas de conservação. Nelas não tem
de haver queimada nenhuma, porque são, teoricamente, áreas onde ninguém vive
nem desenvolve atividades agropecuárias.
Invasões e incêndios
A queima nos parques nacionais assusta por dois aspectos: indicam que há
invasões e tratam-se de verdadeiros incêndios, de grande extensão e impacto
ambiental, conforme Miranda. O Parque Nacional do Araguaia (TO) foi o
recordista do fogo entre as unidades federais de conservação, com 260 focos
no ano passado. A Floresta Nacional de Bom Futuro (RO) teve 227 focos, a
Estação Ecológica da Serra Geral do Tocantins teve 205 e a Reserva Biológica
do Gurupi (MA) teve 120.
Os parques estaduais também tiveram mais queimadas: um crescimento de 62% em
relação a 2003. Juntas, as unidades de conservação federais e estaduais e as
terras indígenas tiveram na temporada passada 12.465 focos de fogo ante
6.808 focos em 2003, um aumento de 83%. O total de 2004 nestas categorias
representa 6% das queimadas em todo o País.
Indígenas
A queima em terras indígenas foi surpreendente na reserva de Maraiwatsede
(MT), onde a Embrapa Satélite detectou 668 queimadas no ano passado, 430%
mais do que em 2003. A Reserva do Baú (PA) foi a segunda com maior
crescimento, de 183%. Pela quantidade de focos, Maraiwatsede foi a que mais
queimou em 2004, seguida do Parque Indígena do Araguaia (TO), com 586, Baú,
com 465, Apyterewa (PA), com 373, Tumucumaque (AP), 294, e Kayabi (PA), 205.
Os indígenas usam fogo para abrir áreas de plantio e pasto, mas o número de
focos está muito acima do comum. É preciso saber o que está acontecendo
naquelas áreas, e a Funai deveria fazer isso, recomenda Miranda, que faz o
mesmo em relação aos parques nacionais: O Ibama precisa explicar por que
estas áreas estão queimando.
A hipótese de incêndios naturais é desprezada pelo pesquisador. Não há
provas de que existam incêndios naturais, muito menos nesta época do ano.
(Estadão, 1/8)