Parque Nacional da Serra da Capivara pede socorro
2005-08-02
Classificado como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, o Parque Nacional da Serra da Capivara, localizado em São Raimundo Nonato (PI), está sem dinheiro para manutenção. Neste mês de agosto os guardas do Parque serão dispensados e as porteiras do parque se abrem para um dos maiores desastres culturais do Brasil.
— Mas como fica na caatinga, longe dos olhos do Brasil, será uma morte silenciosa. Fotografamos tudo porque possivelmente é só o que teremos para mostrar-, diz a arqueóloga Dra. Niede Guidon, que aproveita para anunciar a descoberta de 28 novos sítios arqueológicos, que se somam aos mais de 700 já existentes. — Nós fazemos nossa parte, continuamos trabalhando. Esperamos que o governo se sensibilize com o desastre que está por vir e faça a parte dele-, diz a presidente da FUMDHAM - a Fundação Museu do Homem Americano -, co-gestora do Parque Nacional.
Em nome da Fundação Museu do Homem Americano, a arqueóloga dra. Anne Marie Pecis, diretora Científica e Coordenadora da Pós-Graduação em Arqueologia da Universidade Federal-PE tem reuniões marcadas esta semana nos Ministérios da Cultura, Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente, na UNESCO, no Ibama e foi pedida audiência com o Presidente. Tudo para tentar sensibilizar o governo e conseguir verbas para manter funcionando um dos maiores e mais importantes parques arqueológicos do mundo - o Parque Nacional da Serra da Capivara.
Nem a grandiosidade do lugar, nem o reconhecimento mundial tem poder para convencer o governo a dar o passo final para que os visitantes brasileiros e estrangeiros tenham acesso à misteriosa e bela caatinga brasileira e às milhares de pinturas rupestres deixadas há dezenas de milhares de anos atrás pelos primeiros homens americanos.
Os apelos de Niéde Guidon para que se implemente o programa de sustentação do parque, que passaria a se auto-sustentar cinco anos após a construção do aeroporto, sempre encontraram o argumento da falta de verba. O governo do Piauí chegou a marcar a inauguração do aeroporto para outubro deste ano, mas quase um ano após a promessa não há nada no local.
Como não há programa concreto, nem do estadual nem federal, Niéde Guidon é obrigada a passar o chapéu de ministério em ministério, sempre sensibilizando algum setor do governo mais patriótico ou com a visão de que cultura é importante e pode render divisas ao país - como bem fez a França com suas pinturas rupestres em Lascaux.
Niéde acha humilhante mas necessário pedir dinheiro. — Não é humilhante pessoalmente. É uma humilhação para o meu país. Sou brasileira, tenho 72 anos. Dediquei muitos deles ao trabalho solitário na caatinga, que é o que gosto de fazer - e consegui achar e manter uma riqueza que não há dinheiro que pague e do qual qualquer país civilizado do mundo teria orgulho e estaria ganhando muitos milhões de dólares com visitantes. Não tenho nada e não quero ter nada e passo o chapéu em nome dos brasileiros que se soubessem o que existe no Parque Nacional da Capivara ficariam indignados com o desdém do governo, salvo honrosas exceções-, desabafa Guidon, uma das indicadas ao Prêmio Nobel das Mil Mulheres mais importantes do mundo.
— E o que adianta, se no meu país tenho que passar o chapéu várias vezes por ano, para manter viva uma maravilha que o mundo reconhece mas o meu país não?-, comenta com tristeza e conclui: — troco todas as minhas medalhas e títulos pela implementação do programa que preserve o Parque Nacional da Serra da Capivara. É pedir muito preservar um passado maravilhoso para gerações e gerações futuras? (Com informações da Assessoria Zenza Américas)