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2005-08-02
Um artigo de Raul Bassi, ativista da ONG Greenleft, da Austrália, aponta as contradições do governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva desde que ele assumiu o poder, em 2003, até hoje, com relação à aprovação do cultivo de transgênicos no Brasil.
Segundo o autor, ao assumir, logo após as eleições de 2002, Lula pregava que o país ficasse livre de transgênicos. Agora, mais parece uma insanidade que o presidente deixe acontecer exatamente o oposto, fazendo valer a lei da Monsanto. Para piorar, Lula está às voltas com revelações emergentes de uma profunda crise de corrupção que envolve o seu partido, o PT. E o cheiro rançoso desses fatos, conforme escreve Bassi, ainda choca a opinião pública brasileira.

A revelação mais desprezível, afirma, é a existência de um esquema de compra de deputados de outros partidos para apoiar o governo na aprovação de projetos de seu interesse em troca de um pagamento mensal, chamado mensalão. Lula aparentemente utilizou-se do mensalão para fazer passar no Congresso leis contra os trabalhadores, além de ter permitido o cultivo de organismos geneticamente modificados.

Quando o escândalo veio à tona, a imagem do PT foi aos poucos colocada no chão e, com a crescente insatisfação dos eleitores, a política de Lula agora é uma ameaça à estabilidade governamental, ou governabilidade. —É o fim da última esperança, disse uma trabalhadora no Rio de Janeiro, ao expressar sua desilusão com o PT do presidente Lula. — Há corrupção, e o presidente está envolvido, acrescentou ela. — Desde 1980, sempre votei no PT, mas agora nunca mais, e não sou a única, arrematou a mulher.

—Lula ainda é minha esperança, disse um velho militante petista de Minas Gerais ao jornal Folha de São Paulo. — Ele sairá da crise com seu senso comum. Mas existem elementos apodrecidos no partido, todo ser humano pode cometer erros na política ou em outras atividades. Lula não é culpado por nada, mas não posso dizer o mesmo do resto, acrescentou.

Essas visões refletem o que a maioria dos brasileiros pensa atualmente. No final de maio, uma pesquisa de opinião mostrou que o apoio ao governo caiu 2%, chegando a 39,8%. Segundo o Instituto Datafolha, através de pesquisa divulgada no início de junho na Folha de São Paulo, mais de 65% das pessoas concordam que existe corrupção no governo.

A causa imediata da crise é o crescente escândalo de corrupção no governo, incluindo membros do PT. Contudo, a crise tem uma base mais profunda relativa a problemas com os quais Lula vem se confrontando desde que o PT foi mal-sucedido nas eleições de 2004. A crise é importante porque levanta uma questão desenvolvida pelo próprio PT. A corrupção sempre foi uma característica da vida política brasileira, mas o PT erigiu-se sob uma moral e sob princípios éticos que parece agora esquecer. Como conseqüência, sua base enfraqueceu-se, e o governo está desestabilizado.

Quando Lula venceu, ele fez alianças com partidos de oposição, de esquerda e de direita. Explicou que necessitava de alianças para desenvolver a agenda de reformas do PT, que então era minoritário no parlamento e tinha muitos inimigos em grandes empresas de negócios e em organizações internacionais. Em maio deste ano, o deputado Roberto Jefferson Monteiro, do PTB, um dos partidos aliados do governo, teve seu nome citado como responsável pela indicação de um gerente dos Correios envolvido na aceitação de propina, o qual teria mencionado o nome de Jefferson como suposto beneficiado na recepção de propina.

Ao invés de ficar quieto, Jefferson defendeu-se e acusou deputados de partidos da oposição receberem mesada do PT para votar a favor de projetos de interesse do governo. O cheiro da podridão agora choca o Brasil com raiva.

A crise não está confinada ao PT, que falhou em implementar muitas mudanças e faz uma política de seguir as políticas do Fundo Monetário Internacional (FMI). Dado o desastre eleitoral do PT nas eleições municipais de 2004, a redução do ritmo de crescimento da economia e o aumento da divisão interna do PT, o futuro parece muito escuro. Com a proximidade das eleições presidenciais do ano que vem, muitos apoiadores do partido se afastaram.

No final de junho, emergiram rumores de que um grupo de corporações multinacionais, com sede em Washington, estaria organizando um golpe de direita com o Partido Social Democrático Brasileiro (PSDB). O golpe teria sido denunciado por 43 organizações sociais, lideradas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e pela União Nacional dos Estudantes (UNE). As organizações, contudo, também conclamaram ao governo para que modificasse suas políticas neoliberais. Os rumores pareceram contraditórios, pois as multinacionais e o presidente Bush deram razoável suporte para as políticas econômicas de Lula.

A maioria da esquerda ainda faz parte do PT ou suporta o partido como eleitorado, mas essas alas da esquerda estão se fragmentando e surgem alternativas como o Partido Solidário (PSOL), cujo maior expoente, hoje, é a senadora Heloísa Helena. Contudo, Lula está redesenhando suas alianças a fim de sobreviver à crise e tentar assegurar a vitória em 2006. (Fonte: Green Left Weekly, August 1º, 2005. http://www.greenleft.org.au/back/2005/636/636p14.htm)

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