Gás metano ajuda Brasil a entrar no mercado global de créditos de carbono
2005-08-01
Um dos produtos mais nocivos para o meio ambiente gerados nos lixões – o gás
metano (CH4) – pode contribuir para a participação do Brasil no comércio da
emissão de cotas de gases de efeito estufa (GEE, da sigla em inglês),
prevista no Protocolo de Quioto. Os Ministérios das Cidades e do Meio
Ambiente selecionaram 30 municípios a partir de um edital para elaboração de
estudos de viabilidade de projetos que utilizem o Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL), baseados no aproveitamento de gases gerados nas
áreas de destinação final de resíduos. O objetivo do edital é reduzir
emissões de GEE – principalmente o metano - provenientes de lixões e aterros sanitários. Com o uso do gás de aterros e lixões, os municípios selecionados
poderão reverter recursos financeiros para prefeituras comercializando no
mercado global de carbono os créditos de carbono.
Entre dezembro de 2001 e abril de 2004, foi realizada uma ampla pesquisa
sobre o potencial para produção de energia e redução da poluição com o uso
do biogás gerado por aterros sanitários e lixões no país. O trabalho foi
encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente e conduzido pela Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São
Paulo (USP). O estudo mostrou que o Brasil poderia gerar, até 2015, 440 MW
de energia, por exemplo, usando um gás que hoje é lançado na atmosfera.
Com a entrada em vigor do Protocolo de Quioto – que prevê a diminuição em
cerca de 5% no total de emissões de gases estufa na atmosfera, em relação
aos níveis registrados em 1990 – estima-se que o mercado global de créditos
de carbono atinja US$ 10 bilhões nos próximos anos. O Brasil tem a
possibilidade de participar deste mercado desde junho do ano passado, após a
aprovação – junto ao comitê brasileiro responsável pela análise sobre MDL –
de dois projetos de geração de energia a partir do biogás produzido em
aterros sanitários: o Vega Bahia, em Salvador (BA), e o NovaGerar, em Nova
Iguaçu (RJ). Este último é um dos únicos quatro no mundo já aprovados pela
Organização das Nações Unidas (ONU) como passível de comercializar os
certificados de emissão de carbono.
O NovaGerar, que teve financiamento do Banco Mundial, tem por objetivo
reduzir as emissões de metano geradas pela decomposição dos resíduos
depositados nos aterros de Adrianópolis e Marambaia. O projeto envolve
investimentos em um sistema de coleta de gás e em uma usina geradora de
eletricidade, para capturar o metano do aterro e utilizá-lo na geração de
eletricidade no município.
Além de contribuir para o meio ambiente, o projeto abrange um trabalho
social, segundo Flávia Rezende, consultora da EcoSecurities, uma das
empresas responsáveis pelo projeto. — No lixão de Marambaia, algumas pessoas
passaram da atividade de catação para o trabalho em outra parte do aterro,
com a recuperação de mudas. Assim, elas passaram a evitar contato direto com
o lixo. (Revista do Terceiro Setor/EcoAgência, 31/07/2005)