Ibama tem novo gerente em MT
2005-07-29
O engenheiro florestal, Yugo Marcelo Myakawa, 31, assume hoje interinamente a gerência do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), com o que sobrou ou foi erguido no órgão, depois do furacão Curupira. Yugo é formado pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e trabalha há dois anos no Ibama na função de analista ambiental. Agora, assume o cargo ocupado por dois meses pelo interventor federal, Elielson Ayres de Souza, que deixa Mato Grosso na sexta-feira (5) e volta para o Rio de Janeiro.
Indicação do interventor, Yugo, segundo Souza, tem todas as credenciais para administrar o órgão. - Ele é de Mato Grosso, técnico do quadro funcional, participou comigo do grupo de trabalho que apurou as irregularidades e conhece todo o trâmite interno do órgão -, disse.
Na análise do trabalho dos últimos dois meses, o interventor afirma que foi tempo suficiente para imprimir funcionalidade ao sistema, denunciado como corrupto. Durante todo o processo, Yugo, que já tinha ajudado no início das investigações, atuou como chefe de gabinete do trabalho que chega ao fim com a exoneração de 11 cargos de confiança, o afastamento e possível demissão de 49 funcionários, além de prejuízos materiais, ambientais e sociais incalculáveis para a população. - Fiz uma lista com vários nomes e enviei para Brasília. Indico pessoas para setores que precisam de chefia. E acredito que o escolhido para sentar nesta cadeira (a do gerente do órgão) deve ser um técnico de Mato Grosso. O procurador que apurou por 12 meses as várias irregularidades executadas com a estrutura do órgão, pede dinheiro e recursos humanos.
Num relatório onde explica o que encontrou e como está deixando o lugar, Elielson garante que se não receber R$ 600 mil e 40 funcionários, fora os 60 aprovados no último concurso, o Ibama fechará as portas. - Sem isso não tem como andar. Não sei como será feito e nem de onde essas pessoas virão. O que constatamos é que sem esses números tudo pára. O interventor explica que quando veio para o Estado trouxe 32 pessoas, documentos, indícios de crimes, provas e R$ 200 mil. O dinheiro foi usado para quitar dívidas que não eram pagas há um ano, como a conta de telefone que chegou aos R$ 100 mil. - O que trouxe eu paguei conta de energia, água, obras e o dinheiro acabou. Se quiserem que continue pagando tudo e fazendo a estrutura funcionar, terão que enviar dinheiro.
Sobre as mudanças funcionais, o interventor afirma que quando chegou no Ibama encontrou, só no gabinete, 300 processos parados. - Eram pedidos dos mais simples aos mais complexos. Nós organizamos procedimentos e criamos sistemas para movimentar tudo e agora sabemos quais são as demandas e os nossos limites. Durante a intervenção o grupo teria buscado sistematizar procedimentos para ter controle de documentos e atividades do órgão.
Equipe virá fiscalizar os projetos de manejo
Em agosto, 100 engenheiros florestais pagos com recursos do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) desembarcam em Mato Grosso para vistoriar todos os 1,2 mil projetos de manejo que tramitam no Ibama. A decisão é uma das planejadas depois da operação Curupira e tem como intenção coibir a corrupção, através do controle de dados. O interventor do órgão, Elielson de Souza, explica que associado a esse trabalho, o Ministério do Meio Ambiente também enviará uma equipe de profissionais para mapear todas as áreas indígenas e de conservação do Estado. Depois, esses dados serão cadastrados no Sistema de Controle de Plano de Manejo e Exploração de Floresta (Sisprof), para evitar que em análises futuras, os engenheiros tenham que ir à campo para fazer a checagem das informações. - Com esse sistema tudo será georeferenciado e não será mais necessário se deslocar para verificar se um plano apresentado condiz com a realidade -, explicou Souza.
O interventor afirma que um dos principais problemas relacionados aos projetos de manejo estava relacionado à documentação. - Os donos apresentavam documentos que não comprovavam a posse ou a propriedade. Depois, vinham as maquiagens. Os pedidos apresentavam a localização da área num lugar que não existia para desmatar reservas -, conta. Elielson Souza, acredita ainda que o governo federal continuará dando apoio para a operação. - O trabalho não pode ser abandonado agora. O Ibama também analisa aproximadamente nove contratos da gestão anterior para verificar se existe alguma irregularidade. Entre eles está o da contratação da empresa Carajá, que fez a última reforma da sede, em Cuiabá.
Interventor diz que prata da casa enfrenta rejeição
O procurador federal Elielson Ayres de Souza relata que a indicação do engenheiro florestal, Yugo Myakawa, não teve boa recepção junto ao presidente nacional do Ibama, Marcos Barros. - Eles o teriam achado muito novo, mas, não acredito que esse seja um parâmetro eficiente para escolha. Pois ele é ótimo tecnicamente para a função -, avalia o interventor. Ainda segundo Souza, as últimas pessoas que passaram pelo órgão não deixaram lembranças muito boas. Antes do Hugo Scheuer Werle, que deixa o órgão sob acusação de corrupção, gerenciou o lugar o químico Leôncio Pinheiro da Silva, irmão do senador Jonas Pinheiro. A indicação para o órgão teria sido política, diz o interventor.
Antes dele, trabalhou no lugar o engenheiro agrônomo Leozildo Tabajara da Silva Benjamin, funcionário de carreira, que veio do Ibama de Amapá.
Em 2001, o órgão também sofreu uma intervenção com a saída do primo do ex-senador pelo PMDB, Carlos Bezerra, Nivaldo Gomes Bezerra, que perdeu o cargo diante de uma série de denúncias. Para substituir Nivaldo, entrou na função o interventor Reginaldo Anaissi Costa, que ficou pouco tempo no Estado e foi substituído por Leozildo. - Como se vê os que passaram por aqui vieram sem saber nada sobre as atividades do órgão ou sem conhecer a realidade do Estado, quando não, tiveram pouco tempo de mais para fazer qualquer coisa. Por esse motivo defendo que o novo gerente tem que conhecer Mato Grosso e o órgão -, argumentou. O presidente do Ibama em Brasília, Marcos Barros, foi procurado, mas, informou através da assessoria de imprensa que estava em reunião e não poderia falar. O processo de intervenção no Ibama começou assim que foi deflagrada a Operação Curupira, no último dia 2 de junho. O então gerente em MT, Hugo Werle, foi preso em Sinop e já está em liberdade. (Gazeta de Cuiabá, 28/07 )