Pesquisa na Amazônia indica que carbono de rio não aumenta efeito estufa
2005-07-29
Um dos mais extensos levantamentos sobre a idade do carbono radioativo em única bacia de drenagem da região amazônica está publicado na edição desta quinta-feira (28/7) da revista Nature. O carbono usado nos processos de fotossíntese que ocorre dentro dos rios amazônicos é muito mais jovem do que se imaginava. O trabalho mostra que entre a decomposição e a utilização das moléculas de carbono não se passaram mais do que cinco anos.
- O ponto mais importante desse estudo é mostrar o fato de o CO2 dissolvido nas águas ter uma idade muito recente -, explica Alex Krusche, do Laboratório de Ecologia Isotópica do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da Escola de Agricultura Luiz de Queiroz, uma das unidades da Universidade de São Paulo, localizada em Piracicaba, interior de São Paulo. - Estudos prévios falharam em demonstrar a rápida reciclagem do carbono das florestas porque não dataram esse gás do efeito estufa ao ser, literalmente, exalado pelos organismos nos rios -, contou Krusche à Agência FAPESP. O pesquisador participou do trabalho publicado na Nature, que tem como autor principal Emilio Mayorga, da Escola de Oceanografia da Universidade de Washington, em Seattle, nos Estados Unidos.
O elo agora descoberto tem uma aplicação prática muito direta. - Em uma época em que se discute negociar créditos de carbono como uma forma de mitigar os efeitos das alterações antropogênicas, saber quanto e, mais importante ainda, onde e por quanto tempo podemos estocar carbono torna-se crítico -, avalia Krusche. Na pesquisa, foi usada a comparação entre os isótopos C14 e C13. Mesmo com o avanço científico, os percursos carbonáticos pelos rios da Amazônia ainda guardam segredos que vão precisar ser desvendados por novos estudos. Segundo Krusche, é importante notar que o chamado carbono orgânico que é introduzido nos rios na forma particulada ou dissolvida não é tão recente quanto o inorgânico, tipo de carbono usado nos processos de fotossíntese, e que foi medido pelo estudo.
- Deve existir uma fração de carbono muito instável, que está sendo respirada e que ainda desconhecemos. O fato de esse CO2 ser jovem indica que o estoque de carbono é dinâmico -, diz o pesquisador. Para Krusche, a rapidez na reciclagem do carbono pode tornar o sistema mais reativo aos desmatamentos e às mudanças climáticas. ( Agência FAPESP, 28/07)