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2005-07-29
O momento político conturbado que o país atravessa encobre diversas ações que deveriam ter destaque para evitar prejuízos ainda maiores. Essa é a avaliação da advogada e ambientalista Sulema Mendes de Budin, que lamenta a falta de atenção da mídia para temas importantíssimos, entre os quais a construção da Usina Hidrelétrica de Barra Grande, tido por muitos ecologistas como um grave crime ambiental.

A Usina, situada no Rio Pelotas - na divisa entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul -, teve a licença para o funcionamento cedida pelo Ibama no início deste mês. Cerca de seis mil hectares de floresta serão inundados, cedendo espaço a um lago com 94 quilômetros quadrados. Ambientalistas alertam para importância dos remanescentes da Floresta de Araucárias, que são de fundamental importância para a preservação da biodiversidade. Espécies endêmicas, (que ocorrem em determinadas regiões) estão em risco, entre elas a Dyckia distachia Haaler, bromélia rara listada como uma das espécies brasileiras em extinção. Técnicos decidiram pela total remoção da população das plantas existentes no local, que serão levadas a viveiros e, lá, reproduzidas.

Sulema faz um apelo falando da decisão final liberando o funcionamento da Usina: - eles vão abrir as comportas e daí será tarde demais para o que é fundamental: impedir a devastação.

Lúcia Ortiz, coordenadora geral do Núcleo Amigos da Terra Brasil analisa, porém, que nada mais pode ser feito: o lago da barragem já começou a encher e em dois ou três meses deverá atingir seu limite. - O estrago já foi feito e nada mais poderá reverter -, diz, ressaltando: - mesmo que algum juiz dê parecer a nosso favor. Algumas ações civis públicas estão em julgamento, mas continuam sem resposta.

Lúcia diz que os estudos realizados pela empresa responsável pelo relatório de impacto ambiental, a Engevix, não levaram em consideração diversos aspectos da biodiversidade local, apresentando dados fraudulentos. Para ela, estudos mais aprofundados certamente revelariam novas espécies ameaçadas, tanto na flora quanto na fauna da região. - Apesar de tudo isto não houve um procedimento por parte do governo para a paralisação e reinício dos estudos.

Adriano Becker, vice-presidente e conselheiro da Amigos da Terra, comenta o estranho fato do levantamento ter sido realizado em apenas um mês e vinte dias, tempo insuficiente para a análise dos impactos sociais e ambientais de um empreendimento dessa magnitude. - Um absurdo total e completo -, conclui. Mesmo tendo sido mencionada a existência de mata primária, quem lê o estudo não consegue imaginar a vegetação existente na realidade, segundo ele. Semana passada Adriano esteve na área e diz que a água ainda não atingiu a mata primária nem o Parque Municipal de Encanados, em Vacaria/RS. Agora é só uma questão de tempo. Até outubro toda a região deverá estar alagada sendo que a primeira turbina deve começar a gerar energia no final do mês. Em janeiro do próximo ano, a usina estará trabalhando com potência máxima.

Adriano e Lúcia dizem que a ONG ainda mantém sua luta, mesmo sendo derrotada nesta batalha. A Amigos da Terra acompanha todos os processos de licenciamento de hidrelétricas no Rio Uruguai. E briga para que a Usina de Paiquerê, em fase de licenciamento pelo Ibama, seja barrada e se torne uma unidade de conservação, para compensar os danos causados por Barra Grande. De acordo com Lúcia, esta seria a última área similar em termos de importância para a preservação da floresta. Os problemas causados pela inundação da barragem vão além de questões ambientais. Cerca de 2.500 famílias, de pequenos e médios agricultores e de trabalhadores rurais sem-terra, serão diretamente atingidas. André Sartori, presidente do Movimento dos Atingidos por Barragens - MAB -, afirma que muitas destas famílias dependem da região para o sustento. Elas tiveram que abandonar o local, - mas a sua criação ainda está lá -, diz, referindo-se aos animais e as plantações. André confirma que o alagamento teve início no dia 5 de julho e que 40% da área já foi atingida. Ele diz que a tradicional enchente que ocorre entre os meses de setembro e outubro, conhecida como enchente de São Miguel, deve completar o limite da barragem.

A Baesa, empresa que detém a concessão da usina, defende-se dizendo que as acusações que vem sofrendo por ONGs ambientalistas não levam em conta os dados científicos e técnicos levantados em cinco anos de estudos e pesquisas, além do Plano Básico de Análise Ambiental implantado no projeto. Em seu site, a empresa divulga uma nota intitulada Esclarecimentos sobre as ações ambientais realizadas no empreendimento.

Municípios que serão afetados:
Santa Catarina: Anita Garibaldi, Cerro Negro, Campo Belo do Sul, Capão Alto e Lages. Rio Grande do Sul: Pinhal da Serra, Esmeralda, Vacaria e Bom Jesus. (Ambiente Brasil, 27/07)

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