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2005-07-28
Em trabalho conjunto, equipes de reportagem dos jornais eletrônicos Rondoniagora, Oobservador e Netlignews se deslocaram até o município de Lábrea, na última sexta-feira, para verificar in loco as denúncias de grilagem com uso da máquina administrativa contra o governador de Rondônia Ivo Cassol (sem partido). Usando os assessores Jânio Fernandes, Carlos Henrique Alves (Lingüiça) e Ronaldo Furtado, trio lotado atualmente no Palácio Getúlio Vargas, Cassol invadiu a área de reserva legal da Fazenda Fortaleza do Ituxi, no município de Lábrea, Amazonas. A área, com título definitivo expedido em 1903, foi vendida no final de 2004 para o empresário paulista Ricardo Stoppe Júnior pelo pecuarista Marcos Trentin, com posse e domínio das terras desde 1975.

Em ocorrência registrada na Polícia Federal de Rio Branco, funcionários que trabalhavam há mais de 20 anos na fazenda relataram a forma como foram expulsos do local com uso de força. Eles contaram à PF que duas caminhonetes L-200, uma na cor vinho e outra identificada com emblema da Polícia Civil de Rondônia, entraram no local levando vários policiais uniformizados e fortemente armados. Os supostos policiais deram ordem para que as famílias saíssem da Fortaleza do Ituxi, ao sul do Amazonas. - Pegamos nossos pertences pessoais e fomos largados na BR-364 - conta o administrador da fazenda, que também informou que policiais falaram que estavam no local por ordem do governador Ivo Cassol.

Entrar na Estrada do Boi, que dá acesso à área invadida, não é missão fácil. Na entrada, a dois quilômetros do distrito de Vista Alegre do Abunã, Porto Velho, uma porteira é mantida em cadeado e vigiada dia e noite por homens armados que ficam em duas casas, construídas de um lado e outro da entrada. Uma placa indica nomes das fazendas que ficam a partir da porteira. A Fazenda Fortaleza do Ituxi não está na placa por dois motivos: em gravação telefônica um dos proprietários, Mauro Barros, diz que o dono da fazenda não pode ter acesso pela estrada porque não ajudou na construção e exige o pagamento de 1 milhão e 300 mil Reais; o acesso à propriedade do empresário de São Paulo pela Estrada do Boi é novo e ainda está em obras.

Para obter a permissão de entrada nos apresentamos como assessores de Ivo Cassol enviados para ver como estava o andamento do novo empreendimento do governador rondoniense. Um dos vigias da porteira informou prontamente que um policial militar de Rondônia, sargento Henrique, estava na sede da fazenda e nossa entrada foi liberada. A Estrada do Boi está em excelentes condições de tráfego. Chega a ser perigosa porque a manutenção foi feita recentemente e a terra está solta em alguns trechos ao longo dos 114 quilômetros que terminam na bela cachoeira do Rio Ituxi, onde, segundo denúncia das autoridades do Amazonas, o governador de Rondônia quer construir uma usina hidrelétrica.

Ao longo do percurso as cenas de crime ambiental vão se tornando revoltantes. Para construir a estrada houve uma verdadeira dizimação da floresta. Árvores cerradas são vistas à beira do caminho, provavelmente caídas de algum dos muitos caminhões de torra que entram e saem à noite. A 20 quilômetros, aproximadamente, após uma bifurcação, onde uma placa indica o caminho para quem quer continuar no Amazonas, a Estrada do Boi começa a ganhar novo aspecto. A mata torna-se fechada e as marcas de máquinas pesadas indicam que o trecho ainda está sendo estendido até a cachoeira. Percebemos que estávamos entrando na Fazenda Fortaleza do Ituxi.

Mais trinta quilômetros avançando na estrada fomos abordados por dois homens. Carros emparelhados na pista estreita impediram nossa passagem. Um dos homens se aproximou do carro se apresentando com o nome de João, dizendo ser um dos proprietários. Perguntou quem éramos, para onde íamos e disse que aquela era uma estrada particular. Nos identificamos como jornalistas e informamos que estávamos a caminho da pista de pouso da Fazenda Fortaleza do Ituxi, onde uma equipe de policiais federais e agentes do Incra e Ibama do Amazonas pousaria para uma grande operação na área. Os dois permitiram nossa passagem.

No local onde estavam os dois homens fotografamos, sem que percebessem, tábuas de qualidade e sacos de cimento. Alguma obra será erguida dentro da fazenda, uma porteira ou uma casa para vigiar quem se atreve a entrar na área invadida.

Caminhão de Cassol é fotografado e filmado em meio a cenas de crime ambiental
As cenas de destruição da floresta amazônica ficam ainda mais explícitas. Houve assoreamento de dezenas de igarapés para construção do novo trecho da estrada. No mesmo local muita queimada, destruição de castanheiras e mognos e a presença de máquinas pesadas. Em meio às cenas de crime ambiental um caminhão com placas do município rondoniense de Alta Floresta do Oeste. Pelos registros do Departamento Estadual de Trânsito de Rondônia, o veículo pertence à empresa Eletrossol Centrais Elétrica Cassol Ltda. Fica evidente a participação do governador de Rondônia, Ivo Cassol, nos crimes ambientais e de grilagem.

Ao lado da estrada, acampamentos estão surgindo para abrigar homens que trabalham na destruição da floresta. Com a aproximação dos jornalistas muitos entraram as pressas e desapareceram no meio da mata. Temendo a violência já constatada no local, decidimos voltar à Porto Velho. Transitar na Estrada do Boi à noite não é opção segura. Ao escurecer carretas e caminhões surgem do nada e são carregadas de madeira bruta. Na saída da Estrada do Boi, o cadeado da porteira foi aberto por um dos vigias. Sem saber que estava sendo gravado ele revelou que o sargento Henrique é da Polícia Militar de Rondônia, mora em Porto Velho e saiu da sede da Fazenda Fortaleza do Ituxi há uma semana. Confirmou a presença constante do assessor de Ivo Cassol na área, Lingüiça, e também da Polícia Civil.

O governador Ivo Cassol foi procurado na tarde desta segunda-feira para se pronunciar sobre o assunto. Por telefone celular ele disse que não quer falar sobre o assunto, pediu para não ser mais incomodado e desligou sem esperar qualquer questionamento. Descobrimos na viagem de volta todo o esquema das notas fiscais que permitem a saída da madeira, extraída ilegalmente, dos estados de Rondônia e Amazonas. (Amazônia.org.br, 27/07)

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