Madeira roubada em Rondônia e Amazonas é exportada com nota do Acre
2005-07-28
A 250 quilômetros da capital de Rondônia um distrito cresce de forma espantosa. Em 2002, Vista Alegre do Abunã se resumia a um posto de combustível, muito freqüentado no verão por rondonienses e acreanos que freqüentam as belas praias de Fortaleza do Abunã.
O questionamento do porquê de desenvolvimento tão rápido do local é respondido com um simples olhar ao redor do posto, antes solitário do meio do nada. Cerca de 22 madeireiras se instalaram no distrito. Todas participam ou têm conhecimento do esquema de notas fiscais para esquentar a madeira retirada de forma ilegal dos estados do Amazonas e Rondônia.
Nossa equipe de reportagem investigou e descobriu, com muita facilidade, que a madeira retirada de áreas griladas - entre elas a Fazenda Fortaleza do Ituxi, onde, assessores do governador de Rondônia Ivo Cassol (sem partido) dizem ter comprado 3 mil hectares e máquinas de uma empresa do chefe do executivo fazem derrubada - vai para Vista Alegre do Abunã onde é beneficiada. Caminhoneiros ganham comissão de mil Reais para retirar a madeira bruta dos ramais e transportar até as madeireiras.
Carregadas com madeira beneficiada, caminhões e carretas ficam horas a espera das notas fiscais no Auto Posto Floresta, no distrito rondoniense de Jaci Paraná, a 90 quilômetros de Porto Velho. As notas chegam em carro com placa de Rio Branco (AC), são entregues ao dono de uma lanchonete e repassadas aos motoristas. As notas fiscais são do Estado do Acre e chegam com ATPF (Autorização de Transporte de Produtos Florestais), sem data. Os caminhoneiros dizem que, quando não são parados pela Polícia Rodoviária Federal ou fiscal de outros estados, conseguem transportar até 10 cargas com a mesma nota.
Segundo investigação de jornalistas no local, o esquema das notas funciona há mais de cinco anos. Um policial rodoviário federal informou que vários ofícios foram encaminhados à Secretaria de Estado da Fazenda de Rondônia, responsável pela fiscalização, mas os fiscais são enviados no horário de meio dia às 14 horas, mesmo com a informação de que os caminhões, chamados toreiros, só circulam à noite e madrugada.
O titular da Secretaria de Finanças de Rondônia (Sefin), José Genaro, disse que a presença de fiscais nos postos da Polícia Rodoviária Federal não apresenta resultados. - Temos que fiscalizar as serrarias que estão cortando a madeira sem a nota fiscal - disse Genaro. A Sefin, segundo o secretário, realiza fiscalização constantemente na área e já autuou algumas madeireiras. (Amazônia.org.br, 27/07)