Professor da PUC-SP investiga expansão de novas doenças tropicais
2005-07-28
Alterações no ambiente de áreas tropicais úmidas associadas a mudanças socioeconômicas e aspectos culturais podem estar entre os principais responsáveis pela propagação de doenças como dengue hemorrágica, febre amarela e malária e também pelo surgimento de duas novas doenças tropicais: Ebola e Marburg.
Tais questões estão sendo estudadas pelo professor do Departamento de Ciências do Ambiente da PUC-SP, Paulo Roberto Moraes, em seu doutorado intitulado As alterações ambientais das áreas tropicais úmidas e a difusão de doenças tropicais. O estudo se desenvolve no pós em Geografia Física da USP. —Os poucos trabalhos que existem investigam o desenvolvimento das doenças, mas não abordam como se dá sua propagação do ponto de vista espacial e geográfico-, destaca.
Segundo Moraes, um dos principais motivos que levariam à proliferação destes males é a intensa destruição de ambientes tropicais úmidos, especialmente aqueles recobertos por florestas. Intensas atividades humanas nesses locais, como a mineração, a construção de grandes reservatórios, a exploração predatória da vegetação pelas madeireiras e o crescimento urbano desenfreado interrompem os ciclos biológicos que mantêm o equilíbrio entre as espécies e o meio, produzindo efeitos negativos no ambiente e nos seres vivos.
— O homem não controla a devastação dos ecossistemas, que ficam comprometidos. O desmatamento sem critérios dizima florestas inteiras e leva centenas de espécies à extinção. O resultado são profundas alterações ambientais de efeito local e global-, avalia o professor.
Segundo Moraes, como existe uma forte interdependência na natureza, qualquer alteração traz sérias conseqüências. — Quando um dos elementos da natureza deixa de cumprir suas funções, o sistema se ressente e permite o desenvolvimento de uma nova realidade ambiental, que pode ameaçar a existência das espécies-.
Qualidade de vida
Tanta interferência humana no meio ambiente traz ainda uma outra conseqüência: acentua as precárias condições de vida de parte das populações locais, abrindo espaço para a difusão das chamadas doenças tropicais. Para piorar, recentemente, o Ebola e o Marburg provocaram epidemias no continente africano, levando centenas de pessoas à morte – altamente letais, ambas são transmitidas por secreções como sangue e fezes e causam sangramentos, vômitos, diarréia e tosse.
Levantamentos recentes da Organização Mundial da Saúde (2005) mostraram que este tipo de doença tem origem ou se expande principalmente entre as populações mais carentes, dos países com baixíssima qualidade de vida. — Como a maior parte dos países das áreas tropicais enquadra-se nesta categoria, eles tornam-se palcos perfeitos para a ocorrência de grandes epidemias-, explica.
Mas a questão não fica restrita a estes locais. Segundo Moraes, como o processo inicial do surto em ambas as doenças ainda não é totalmente conhecido, não existem medidas eficientes para evitar o início de uma eventual pandemia, ou seja, uma epidemia generalizada que poderia cruzar o continente em pouco tempo e comprometer grande parte da população mundial.
Gripe do frango
Outro assunto em pauta pelo pesquisador é a conhecida popularmente como gripe do frango. Neste ano, durante a 57ª Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o pesquisador apresentou o trabalho Gripe do frango: uma possível nova pandemia do vírus Influenza. Em setembro de 2005, o assunto voltará a ser abordado no XI Simpósio de Geografia Física Aplicada, na USP, com o trabalho Sudeste Asiático e a gripe do frango: uma abordagem geográfica da ação do vírus influenza.
Nos últimos anos, a epidemia vem atingindo principalmente países do sudeste asiático cujas condições socioambientais favorecem sua expansão. Ao afetar grande parte das criações de aves destas regiões, provocou prejuízos aos criadores locais e despertou apreensão na comunidade científica.
Derivada de uma linhagem do vírus Influenza – o mesmo que provocou a pandemia da gripe espanhola no início do século 20 – a gripe do frango já se manifestou em habitantes das áreas afetadas e apresentou alto grau de letalidade. (Com informações da USP)