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2005-07-26
Zero de agrotóxicos, organismos geneticamente modificados e componentes químicos, mas crescimento de cerca de 30% ao ano. Os orgânicos têm ganhado espaço das gôndolas de mercados às das lojas de cosméticos. Sobram dados que comprovam esse crescimento. - Haverá um incremento de até 50% no consumo desses produtos até 2008 -, projeta o secretário-executivo da BrasilBio (associação de produtores do segmento), Guto Mazzo. Se depender do governo, esse aumento será ainda maior. De 10 a 16 de setembro, acontecerá a Semana dos Alimentos Orgânicos, uma iniciativa do MMA (Ministério do Meio Ambiente) e da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), com a participação dos ministérios da Agricultura, do Desenvolvimento Social e do Desenvolvimento Agrário. - A idéia é popularizar o consumo de orgânicos -, diz o diretor de economia e ambiente da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do MMA, Gerson Teixeira. - Faremos uma ampla campanha com promoções sobre os benefícios do consumo de orgânicos. Em contrapartida, os supermercadistas conduzirão políticas de descontos durante o período. Crédito
O esforço governamental não se restringe à semana de setembro. Segundo Teixeira, o país está negociando na OMC (Organização Mundial do Comércio) a inclusão de produtos orgânicos no rol dos bens ambientais. A mudança permitirá o aumento das exportações e a concessão de incentivos fiscais para quem investir na área. - Estamos elaborando uma proposta de medida provisória para possibilitar o acesso ao crédito rural pelos produtores de orgânicos -, adianta.

Mesmo sem os incentivos, há quem acredite que o cultivo já seja vantajoso. - O orgânico nunca será uma commodity -, afirma o presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), Antonio Ernesto de Salvo.

Venda saudável
Em média, os orgânicos são 25% mais caros do que os similares convencionais. Essa diferença de valores, no entanto, não intimida os consumidores. Se depender do poder de compra das mulheres, os empreendedores têm destino certo para os itens produzidos. Delas, 96% afirmam pagar mais por uma comida saudável. O mesmo percentual diz procurar produtos que não prejudiquem o ambiente, segundo pesquisa realizada pela Latin Panel em novembro e dezembro do ano passado com 50 mil mulheres.

Mas o principal destino dos produtos brasileiros é o mercado externo. Segundo dados da BrasilBio, o comércio com outros países representou, em 2004, de 60% a 70% do faturamento total do segmento, de US$ 120 milhões. União Européia -Alemanha, Reino Unido, França e Itália-, EUA e Japão são os que mais demandam produtos brasileiros. De acordo com Eduardo Caldas, gerente de produtos orgânicos da Apex (Agência de Promoção de Exportações), os principais produtos exportados são mel, cachaça, arroz, soja, peixe, café, açúcar, óleo de palma e algodão. - Os produtos orgânicos estão se tornando estratégicos. O comércio com outros países tende a crescer bastante -, prevê.

Certificação pode trazer benefícios
Para muitos produtores, a certificação é um martírio. É preciso ter na ponta do lápis até mesmo as horas gastas com o uso de trator no terreno. Conhecer da origem das sementes aos fornecedores e clientes é pré-requisito para conquistar o aval de uma das certificadoras de produtos orgânicos.

Apesar de tantas exigências, a certificação é a chave para abrir as portas do comércio nacional e internacional. Sem ela, é impossível fazer com que os produtos ingressem na Europa, nos EUA ou no Japão com o status de orgânico. No Brasil, há dezenas de empresas que se dedicam à verificação da produção e do produto. Mas, se o interesse do empreendedor é ultrapassar as fronteiras nacionais, o melhor é recorrer às creditadas por entidades estrangeiras.

A periodicidade do documento é definida pelo tipo de produto cultivado. Porém, segundo o gerente da certificadora IBD, Jorge Vailati, o selo tem de ser recebido ao menos uma vez ao ano. - Para os itens industrializados, o processo é bem mais demorado. É preciso reunir dados dos agricultores e até mesmo dos produtores das embalagens -, avisa.

Há quem acredite que o atestado possa trazer benefícios a médio prazo. - O produtor deve controlar todos os estágios de sua produção. Isso faz com que detecte desperdícios de insumos, manejo ineficiente e baixa produtividade de variedades não adaptadas à região -, explica Tiago Ghion, da Aaocert, ONG de certificação.

Os valores do atestado variam de acordo com a classificação do produtor. Na agricultura familiar, é possível obter o documento por R$ 35 mensais. Pequenos e médios pagam mais -os testes e a verificação do terreno e dos produtos podem passar de R$ 1.000. (Folha de São Paulo, 25/07)

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