Empresa de celulose espanhola condenada por contaminar ar e mar quer ir para o Uruguai
2005-07-26
A Empresa Nacional de Celulose España (ENCE) foi sancionada em seu país de origem por contaminar o ar e o mar. A empresa é uma das papeleiras que pretendem se instalar na cidade uruguaia de Fray Bentos, mas passa pela resistência da Argentina por possíveis danos ambientais que poderia causar na cidade vizinha de Gualeguaychú, já que foi condenada há três anos, na Espanha, por delito ecológico continuado, segundo informações da agência DyN.
Conforme a mesma fonte, que cita informantes espanhóis, em 2002, a Audiência Provincial de Galícia julgou os dirigentes da ENCE e os membros da comissão sindical da companhia – todos os quais teriam pedido de prisão pelo impasse – e os condenou sem mandá-los para a prisão.
A fábrica da ENCE está instalada desde 1957 em Pontevedra, uma das províncias galegas. Segundo estabeleceu a Justiça espanhola, a unidade contaminou as águas marinhas e o ar com diferentes efluentes industriais e emanações tóxicas para a fauna e a flora. Por isto, o projeto da ENCE é retirar parte de sua indústria de Pontevedra e trasladá-la à cidade uruguaia de Fray Bentos, já que, além disto, deve desmantelar as instalações antes de 2018, por imperativo da espanhola Ley de Costas, aprovada em 1988 pelas Cortes, em Madri.
Esta relocalização, em 2002, fez com que a ENCE suscrevesse um acordo de investimentos com o governo uruguaio, cujo titular agora é o presidente Tabaré Vázquez, que defende as obras com o argumento de que é o maior investimento estrangeiro na história do país e que dará trabalho de forma direta e indireta a milhares de cidadãos fraybentinos. Mas o governo argentino, especialmente o da província de Entre Ríos e os vizinhos de Gualeguaychú, vêm-se opondo à instalação da ENCE e de outra indústria, que pertence à finlandesa FOTNIA.
Inclusive o governador de Entre Ríos, Jorge Busti, anunciou que apresentaria uma denúncia diante da Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) em defesa da vida e da saúde, rechaçando a alteração do ecossistema. Para tanto, em conjunto com os vizinhos convocados na Assembléia Ambiental de Gualeguaychú, disse que apresentará ainda um recurso de amparo diante da Corte Internacional de Justiça, em Haia.
Ontem, grupos ecologistas do Uruguai cortaram a rota nacional 136, que termina na ponte internacional General San Martín, que une a cidade de Entre Ríos de Gualeguaychú com a uruguaia Fray Bentos, provocando forte congestionamento. Na quinta-feira da semana passada (21/7), os chanceleres da Argentina e do Uruguai, Rafael Bielsa e Rolando Gargano, respectivamente, acordaram uma trégua no conflito e constituíram uma comissão binacional de especialistas em impacto ambiental. Já no mês de maio último, Vázquez e o presidente argentino, Néstor Kirchner, comprometeram-se à mesma ação, mas a comissão nunca funcionou.
No Uruguai, o fiscal Enrique Viana entrou com uma denúncia penal contra o ministro do Meio Ambiente, Mariano Arana, acusando-o de ocultar informações sobre o impacto ecológico que traria a implantação da indústria de celulose no entorno. (Clarín, 25/7)