Madeireiro diz que pagou propina a fiscais do Ibama no MT
2005-07-25
O madeireiro Daniel Tenório Cavalcante declarou, em juízo, que era coagido por fiscais do Ibama a pagar propina para a liberação de cargas ilegais apreendidas no posto do Trevo do Lagarto (MT). O dinheiro, segundo ele, era depositado na conta do fiscal José Carlos Mendes para que os caminhões da empresa Três Morrinhos Madeiras tivessem livre trânsito no posto fiscal. Algumas vezes o próprio motorista do veículo fazia o pagamento por meio de cheque, devidamente coberto por Cavalcante em seguida.
O madeireiro revelou os detalhes do esquema de corrupção ao juiz federal Marcos Alves Tavares. Cavalcante afirma que o fiscal frequentemente exigia o pagamento de um valor para liberar a passagem de caminhões da empresa.
O esquema teria iniciado entre o final de 2004 e começo deste ano, depois da apreensão de um dos caminhões. O fiscal teria solicitado o dinheiro, que foi pago por um sócio do acusado. A partir daí, segundo ele, todos os caminhões da Três Morrinhos eram parados no posto, mesmo os que transportavam cargas legais. O fiscal teria justificado a cobrança de propina sob a alegação de que toda a madeira que teria como destino o Porto de Paranaguá (PR) deveria ser taxada. Cavalcante confirmou durante o interrogatório que teria pago algumas vezes a quantia exigida. Admitiu que chegou a telefonar para os fiscais para acertar o valor da propina a ser paga. Questionado sobre a razão de não ter denunciado o esquema, o madeireiro disse ao juiz que corria o risco de ter a empresa fechada caso o fizesse. O madeireiro disse ainda que não conhecia o diretor do posto fiscal, Marcos Pinto Gomes.
Ele negou ter recebido propostas semelhantes de outros fiscais também denunciados pelo Ministério Público Federal, como Édio Ciríaco e Luiz Duarte. Em relação às outras acusações, Cavalcante não adotou a mesma postura. Negou também que tivesse um escritório no Posto Caiçara, próximo a Sinop, para supostamente negociar a venda de ATPFs originadas ilicitamente para outros madeireiros. Cavalcante também foi acusado por um coronel da Polícia Militar de Sinop de liderar um bando armado e cometer crimes na região. O madeireiro negou e disse que o coronel o estaria perseguindo por suspeitar que ele estivesse envolvido em um homicídio ocorrido em uma chácara. Cavalcante declarou não saber o que seria uma ATPF calçada ou esquentada. (Gazeta Digital, 22/07)