Transposição do São Francisco deve começar em setembro
2005-07-25
O Brasil se prepara para iniciar a transposição do Rio São Francisco, ambicioso projeto hídrico que pretende aliviar a pobreza de milhões de habitantes do Nordeste, onde as prolongadas secas causam fome e êxodo de agricultores.
Prioritário para o governo federal, o plano prevê investimentos de 4,5 bilhões de reais na construção de 700 quilômetros de canais, represas e estações de bombeamento para levar água a 9 milhões de pessoas no prazo de dois anos.
A etapa inicial da transposição, a ser concluída até o final de 2007, deve começar em setembro, quando, uma vez concedida a autorização final do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), engenheiros do Exército iniciarão o primeiro trecho dos dois canais, um em direção ao norte e outro para o leste.
— Ao mesmo tempo, estamos finalizando a licitação de 14 trechos. Os editais foram comprados por 125 empresas, e devemos receber as propostas até o final de agosto. Teremos, então, 45 dias para concluir o processo de análise e concessão-, afirmou à Reuters o coordenador do projeto, Pedro Brito.
Empresas privadas construirão os demais trechos dos canais -- um de 200 quilômetros e outro de 500 quilômetros --, assim como as represas e estações de bombeamento, já que no eixo norte a água precisará subir 180 metros e, no leste, 300 metros.
— A população das pequenas, médias e grandes cidades dos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco será beneficiada diretamente-, disse Brito, acrescentando que o plano permitirá acabar com o drama de famílias que caminham dois ou três quilômetros com latas dágua na cabeça.
Devem ser transpostos 26 metros cúbicos por segundo do rio São Francisco, o que representa uma média de 1 por cento de sua vazão, para alimentar rios e açudes do Semi-Árido nordestino, uma das regiões mais pobres do país.
O atual projeto é a última versão de outros planos, que, desde 1985, previram o uso de até 300 metros cúbicos de água por segundo, razão pela qual provocaram forte resistência.
Apesar da redução no uso previsto da água, os críticos insistem que o rio será prejudicado, que haverá danos ao meio ambiente e que o projeto só beneficiará grandes propriedades rurais.
Mas Brito, que também é chefe de gabinete do Ministério da Integração Nacional, disse que o plano pretende justamente revitalizar o São Francisco, ajudar os mais pobres e permitir o assentamento de agricultores.
O São Francisco nasce no Estado de Minas Gerais e percorre 2.700 quilômetros até desaguar no mar, na divisa entre Sergipe e Alagoas. Sua bacia ocupa 634 mil quilômetros quadrados.
O projeto prevê a conexão dessa bacia com as dos rios do Nordeste -- Paraíba, Ipojuca, Jaguaribe e Piranhas-Açu, entre outros --, cujo volume de água sofre com as secas que podem durar até três anos.
O São Francisco se degradou com a construção de hidrelétricas, a ocupação de suas margens e o lançamento de lixo doméstico e industrial, segundo Brito.
— Os ribeirinhos estão acostumados a pescar no rio, e hoje não têm praticamente mais peixes, porque todo o sedimento, a alimentação natural dos peixes, fica retido na grande represa (da hidrelétrica) de Sobradinho-, afirmou ele, acrescentando que o assoreamento das margens desmatadas reduziu a profundidade do leito.
— Esse prejuízo nada tem a ver com a integração das bacias, e são processos irreversíveis. Por isso está aí o projeto de revitalização do rio-, disse Brito. Além das obras de saneamento básico já em andamento em 84 municípios, devem ser realizados programas de reflorestamento e regulamentado o destino de dejetos industriais.
O desenvolvimento posterior do projeto, com prazo para terminar em 2020, permitirá beneficiar 12 milhões de pessoas. — Já a recuperação do São Francisco dará novas oportunidades de negócios aos ribeirinhos, como um esquema de piscicultura que estamos desenvolvendo e projetos de irrigação que ocupam mão-de-obra-, concluiu Brito. (Reuters, 22/7)