Indústria do petróleo tenta acordo para livrar-se de processos por poluição nos EUA
2005-07-25
A indústria do petróleo concordou em contribuir com
US$ 2 bilhões para ajudar a limpar vazamentos de um
aditivo de gasolina que está percolando para o subsolo
em troca de imunidade contra dezenas de processos,
informaram pessoas próximas a uma negociação desta
natureza que se desenrola nos Estados Unidos. Mas a
proposta de contribuição da indústria, que seria
dirigida para o lançamento de um novo fundo para fazer
acordos com as vítimas de contaminação pelo aditivo de
combustível, o metil tércio butil éter (MTBE), está
muito perto do que alguns estimam ser o pagamento
pelos vazamentos.
Líderes republicanos no Congresso estão intermediando
o acordo em um esforço para fazer passar pelo Senado
uma lei sobre energia abrangente e evitar uma dolorosa
repetição do que ocorreu há dois anos, quando a
questão do aditivo à gasolina ajudou a praticamente
sepultar o projeto de lei. A questão também é
importante para a indústria de petróleo e companhias
do setor químico, que têm se esforçado para se
defender de processos segundo os quais os fabricantes
de substâncias químicas devem ser responsáveis pelos
custos de limpeza nos casos de vazamento. As
municipalidades estimaram que os custos totais de
limpeza seriam superiores a US$ 20 bilhões. O
Instituto Americano do Petróleo, grupo de comércio da
indústria do petróleo, estima que esses custos fiquem
ao redor de US$ 1,5 bilhão.
— A indústria necessita fechar questão, precisa
ter certeza-, disse Lawrence J. Goldstein, presidente
da Fundação de Pesquisa da Indústria de Petróleo, um
grupo financiado pela indústria. — Ela não quer
deixar isto em aberto porque sabe que, afinal, grandes
somas de dinheiro vão ser requeridas para se pagar
pelos vazamentos-, acrescentou.
Embora não tenha havido descrição pública acerca dos
detalhes das provisões do MTBE, o parlamentar Joe
Barton, republicano do Texas que está secretariando o
Comitê de Energia Doméstica e Comércio, está tentando
levantar conversações entre a Câmara e o Senado sobre
a legislação de energia a fim de chegar a uma rápida
conclusão. Ele agendou uma sessão, para esta
segunda-feira (25/7), na esperança de delinear um
projeto de lei que poderia ter a aprovação do
Congresso antes do recesso legislativo de agosto.
A situação permanecia indefinida até quinta-feira
(21/7), enquanto legisladores sêniores, encarregados
do projeto de lei sobre energia tentavam resolver
questões pendentes. Os apoiadores das medidas de
energia do Senado, que não estiveram intimamente
envolvidos no delineamento das propostas do MTBE,
disseram que não viram uma proposta formal e que
estavam céticos quanto a que o fundo de limpeza de US$
8 bilhões ligado à imunidade da legislação pudesse
passar pelo Senado. Um senador republicano acrescentou
ontem que a Casa Branca deveria intervir
para resolver a disputa caso fosse ameaçada a
tramitação geral da lei de energia.
O prospecto de um acordo sobre MTBE entre a indústria
e membros republicanos do Congresso foi penoso para a
coalizão de legisladores democratas, grupos
conservadores e representantes dos governos locais e
empresas de energia, que disseram que foram alijadas
das conversações. Críticos do plano disseram que o
fundo de limpeza de US$ 8 bilhões que está sendo
proposto além dos US$ 2 bilhões da indústria requer
uma aprovação prévia pelo Congresso e mesmo batalhas
políticas não relativas a gastos dessa natureza
poderiam resultar demoradas, levando à sobrecarga dos
sistemas locais de água.
— É uma mudança de custos sem precedente,
criticou Brian Wahler, prefeito de Piscataway, em Nova
Jersey, quinta-feira (21/7), em uma entrevista em que
representava a Conferência Nacional de prefeitos e
Ligas Municipais. Ele juntou-se aos parlamentares democratas na crítica a Barton por
conduzir negociações secretas que tiveram implicações
sobre os acordos de comunidades com respeito à
poluição causada pelo MTBE. Um lobista da indústria
envolvido nas negociações, Scott Segal, que representa
os produtores de MTBE, alegou que a proposta de
companhias de água locais foi retirada das
conversações. — Houve membros do Congresso que
retiraram os interesses dos sistemas de água do
primeiro lugar, disse.
Pelo acordo proposto, as contribuições dos fabricantes
de MTBE como Lyondell Chemical e Exxon Mobil,
importadores independentes de gasolina contendo MTBE e
donos de estações de gasolina contribuiriam com US$ 2
bilhões para o fundo privado. As estações de gasolina
passariam por uma avaliação, pagando entre US$ 1,2 mil
e US$ 1,5 mil cada uma. Outras companhias teriam uma
avaliação baseada em quanto do aditivo de combustível
seria consumido ou produzido. Mas uma divisão
específica sobre quem pagaria quanto ficou ainda para
ser determinada, com as grandes empresas de petróleo e
as pequenas refinarias independentes argüindo que as
maiores devem pagar mais. A porção de US$ 6 bilhões de
um fundo público viria do Fundo de Reserva de
Vazamentos para o Subsolo e de outras fontes públicas
que Barton deveria revelar, segundo informou um
envolvido nas negociações.
As indústrias de petróleo ficariam sob pressão para
elevar a contribuição para o fundo. Para complicar
mais a questão, a Agência de Proteção Ambiental (EPA)
reportou conclusões segundo as quais o MTBE é ainda
mais perigoso do que se pensava. Quinta-feira (21/7),
a senadora Dianne Feinstein, democrata da Califórnia,
entregou uma carta assinada por 21 senadores para o
administrador da EPA, Stephen L. Johnson, requerendo
maiores informações sobre um estudo a respeito dos
riscos que podem concluir que o MTBE é, provavelmente,
um dos maiores carcinogênicos humano. A assessora de
comunicação da EPA, Eryn Witcher, disse que a agência
estava avaliando a carta.
(Com informações do The New York Times, 22/7)