Estrangeiros dominam pesquisas na Amazônia
2005-07-22
Um levantamento feito nas mais importantes publicações científicas do mundo mostra que o conhecimento científico sobre a Amazônia está concentrado nas mãos de estrangeiros. Apenas 22% dos artigos científicos a respeito da floresta publicados entre janeiro e abril de 2004 foram escritos por pesquisadores que vivem no Brasil. A análise foi feita pelo biólogo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Adalberto Luís Val. Ele fez o levantamento pelo Portal Periódicos, o site do Ministério da Educação que reproduz os textos de 9 mil publicações científicas brasileiras e estrangeiras.
Dos 452 artigos sobre a Amazônia publicados nos quatro primeiros meses do ano passado, 352 foram produzidos por pesquisadores que moram fora do País. O número nacional (100 textos) é menor, por exemplo, que a produção de cientistas americanos, que escreveram 107 artigos sobre a floresta que cobre 60% do território brasileiro. Para o pesquisador do Inpa, esses números revelam perda de soberania. - A única forma de termos o domínio daquela região é estudá-la. Quando temos de comprar de fora os dados científicos que foram coletados aqui dentro, a nossa soberania fica em risco - , diz ele.
Val apresentou os números nesta semana na 57ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em Fortaleza. Esse é um de seus principais argumentos para defender a criação do Programa Acelera Amazônia, que tem como objetivo triplicar o número de grupos de pesquisa e pós-graduação que atuam hoje na floresta. Segundo ele, as pessoas que têm qualificação não se interessam em trabalhar na Amazônia porque há poucos cursos de pós-graduação na região e porque os salários não são atraentes. Como instituições que precisam de pesquisadores, ele cita as universidades federais, o Museu Paraense Emílio Goeldi, o Centro de Biotecnologia da Amazônia e o próprio Inpa.
A criação do Acelera Amazônia já está em estudo pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e deve fazer parte das metas do governo de aumentar a oferta de cursos de pós-graduação. (O Estado de São Paulo, 21/07)